sexta-feira, 29 de junho de 2012

POBRE MENINA SONHADORA


Minha vida de estudante propriamente dita começou aos nove anos de idade, quando segundo a tradição familiar, e por força das circunstâncias, eu também deveria ir para o colégio dar inicio então à tão sonhada vida de internato.
Digo “tão sonhada” porque morria de inveja quando meus irmãos mais velhos  comentavam entre si as peripécias pelas quais passavam quando estavam no colégio. Minhas irmãs, Teca e Maria I.  referiam-se ao internato com tanta graça que eu  achava que deveria ser o paraíso. Aguardava com ansiedade o momento em que eu também iria  passar  pelas mesmas oportunidades, movimentar mais a minha vidinha que eu considerava pacata, na fazenda brincando sozinha, estudando ou fazendo algumas tarefinhas.
Pobre menina sonhadora! A realidade é bem diferente... claro, eu seria apenas mais uma entre uma centena de outras internas, e nem era a menor de todas! Não tinha porque ficar esperando que alguém fosse ter atenção especial comigo.
Entre as novatas como eu, duas irmãsinhas de sete e oito anos,  dividiam entre si o consolo e mitigavam as saudades. Eu, mais uma vez sozinha, agora chorando as saudades! Saudades da Mamãe, da família, do aconchego do lar, do sabor da  comida feita com capricho no fogão à lenha... o perfume da madeira queimando...Quando amanhecia no dormitório cheio de meninas, chegava ouvir o cantar dos pássaros nas árvores, o galo no galinheiro o mugir das vacas e seus bezerrinhos... era o barulho da natureza que eu nem dava conta de que me agradava tanto...
Os primeiros dias foram inesquecíveis! Tudo novo... nada era como na minha casa...tudo... tudo diferente! Aquele bando de meninas e mocinhas, ninguém familiar... olhares hostis, desconfiados. Lembro-me de procurar alguém com  quem dividir meus anseios e minhas indagações, mas parecia que todas estavam alegres e felizes, ninguém compartilhava da minha solidão. Muito acanhada, ficava sempre num cantinho com cara de poucos amigos, pensando como seria a minha vida ali naquele lugar estranho... de uma coisa eu tinha certeza: eu iria estudar de verdade, iria ocupar uma carteira, escrever no caderno, desenhar... isso me trazia ânimo e me enchia de esperança!
Chegou o primeiro dia de aula! A ansiedade tomava conta de mim... não sabia quem seria a professora, nem quem seriam minhas colegas. Nessa hora o número de alunas triplicou. No pátio, as alunas reunidas, internas e externas, todas mais ou menos da mesma idade formavam filas por série. Alguém chegou  e  me perguntou:
_ Qual é a sua fila?
Respondi:
_ Não sei...
_ Você se matriculou em qual série?
_ Não sei...
_ Que série você fez o ano passado?
_ Não sei... (A pessoa deve ter pensado que eu era mais uma doente mental que as irmãs por compaixão recebiam) Aí consegui formular uma frase mais consistente e disse: minha mãe disse que eu posso fazer o terceiro ano. Eu não sabia, mas essa  frase  provocou o meu primeiro vexame  de minha vida! Fui então conduzida para a fila do terceiro ano e junto com as outras alunas, para a sala de aula. Iniciadas as apresentações, a professora uma senhora corpulenta, vestida de amarelo, estranha, não tinha cara de professora, pelo menos não a cara que eu esperava que tivesse. Eu sonhava com uma professora linda, carinhosa e que me achasse  engraçadinha...
O seu visual não me agradou como também não a recepção “calorosa” que recebi.
Esse dia ficou assinalado na minha infância. Abalou as minhas expectativas como também a minha vida. Deixou lembranças cruéis que carrego até hoje   do meu primeiro dia de aula no internato.

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