tag:blogger.com,1999:blog-11339150501545767962024-03-05T21:10:59.649-08:00Vida em contoRecordações de um passado distante... ou nem tanto assim...
Novela descrevendo recordações a partir da primeira impressão desde quando a memória na mais tenra infância foi acionada, passa por saudosa vivência na fazenda, no internato e outras colocações.
Uma postagem está relacionada a outra embora sejam independentes.Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.comBlogger31125tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-20771265636972070362013-06-07T07:43:00.000-07:002013-06-07T07:43:58.681-07:00Fugindo do espeto, caiu na brasa!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">No
internato, onde passei dez anos de minha infância e adolescência, todas as
atividades eram feitas em conjunto. Já tive oportunidade de dizer aqui que não
ficávamos sozinhas, tínhamos sempre alguém vigiando, uma freira ou uma “olheira”.
Esta era uma aluna como as outras, mas preferia ficar do lado das irmãs quando
existisse algum fato que estivesse em desacordo com o regulamento ou instruções
do momento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Todos os movimentos
eram feitos em fila dupla; entradas e saídas de qualquer lugar, até nos
passeios pela cidade aos domingos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Um dia,
numa manhã linda, saímos em direção a uma praça onde balanços e outros brinquedos infantis estavam
à disposição da criançada. Tudo bem, quem quisesse brincar podia escolher seu
brinquedo, mas as maiores, as mocinhas, morriam de vergonha da situação. De repente,
não sei de onde saiu, um bando de rapazes apareceram com bolas nos chamando
para jogar vôlei. Educadamente
agradecemos e trocamos algumas palavras inocentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Quando as
irmãs que nos acompanhavam viram que conversávamos com estranhos e ainda
jovens, alarmaram-se e no mesmo instante
deram o sinal de agrupamento. A esse sinal tínhamos que atender
imediatamente sob pena de castigo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">As irmãs
nos olhavam furiosas nos prometendo mundos e fundos em forma de punição por
aquele “ato de indisciplina”.</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Imediatamente
formamos a fila, e como ainda faltava muito tempo para a volta, a alternativa
era passearmos pela cidade... em fila!</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Receando passar
por novas peripécias, ou encontrarmos algo desagradável pelo caminho, a irmã
responsável que não conhecia bem a cidade, foi conduzindo a fila procurando
distanciar do centro ou dos “perigos” que ele representava, ou seja, os
rapazes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Segue aqui,
vira ali, caminhando sempre em busca de ruas ermas, deparamos com algo
inusitado. Mulheres com roupas
coloridas, saias justas e muito curtas, decotes profundos, saiam à porta e
janelas, espantadas fazendo observações inoportunas!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A irmã
ficou na maior “saia justa”, não sabia o que fazer se virava ou seguia, pedindo que não olhássemos e nem respondêssemos
aos gracejos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Ela por fim compreendeu que teria sido melhor se tivéssemos
ficado na praça. Como diz o ditado popular: “Fugindo do espeto, caiu na brasa!”<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-18791909825077127092013-05-23T16:31:00.000-07:002013-08-03T06:38:01.598-07:00A passagem assombrada (II)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Para melhor
compreensão dos fatos é recomendável ler o episódio anterior<i>, A passagem assombrada (I)</i>. O texto foi desmembrado em respeito ao
amigo leitor que preza seu tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na fila dupla eu ocupava mais ou menos a quarta
posição. Era formada pelas alunas mais
altas à frente seguidas pelas de menor estatura. Isto não quer dizer que quem
ocupava os primeiros lugares conduzindo a
fila, eram necessariamente as mais ajuizadas e equilibradas e sim as mais altas.
Talvez por isso mesmo o que passava em pernas, faltava em juízo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu era uma daquelas que tinham voltado de uma soneca na
capela, logo, estava um tanto desligada da realidade tentando me manter acordada. Encostada na parede do
corredor, enquanto se abriam as portas, fechei os olhos. Naquele fatal piscar,
um pouco mais prolongado em que tive os neurônios desligados por uma fração de
segundo, ouvi alguém gritando - um homem! Um homem! Isto significava que havia ali um
malfeitor! A primeira reação seria a de nos proteger, fugir, buscar um esconderijo! Imagine cem meninas envolvidas pelo mesmo sentimento de pavor, buscando
refúgio, sentindo-se perdidas, desorientadas, sem proteção e ainda sem saber de
fato o que estava acontecendo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Todas gritando histericamente, fizeram a meia volta
correndo e se atropelando. Havia meninas espalhadas por todo canto, aquelas que
conseguiram chegar a algum lugar. Outras, as atropeladas, ficaram pisoteadas no chão, feridas, em estado lastimável.
O pânico espalhado levou até à clausura (local reservado às irmãs) algumas meninas movidas pelo desespero provocando um reboliço,
porque ninguém entendia nada... Todos queriam saber o que estava acontecendo, mas
ninguém conhecia o motivo daquele desespero...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O gabinete da Madre Superiora ficava quase em frente
onde eu estava. Era um local onde só entravam as pessoas convidadas por ela. Pensei: este é um bom lugar onde me esconder.
Mão no trinco, a porta estava aberta, entrei. O escuro do interior impediu-me
de ver se havia alguém naquele recinto. Na verdade não estava preocupada com
isso. Achava que estava sendo esperta buscando melhor refúgio, quando dei de
cara com alguém. Agora com a visão mais adaptada à penumbra, vi uma velha,
cabelos brancos e longos, camisola branca... na minha cabeça de adolescente,
era uma bruxa! O que eu fiz? Voltei a gritar apavorada, rumo à porta, saí para
o corredor gritando e correndo sem direção,desesperada! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aos poucos os ânimos foram se acalmando! Nessa noite
não fomos para a sala de estudos. Depois desse tumulto as irmãs nos conduziram
ao dormitório e nos ofereceram calmantes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No dia seguinte já mais calmas fomos rememorar o
acontecido. Cada uma tinha uma história para contar. A grandalhona que abriu a
porta e que “viu o homem”, vira sim a roupa de um dos trabalhadores da obra que
estava pendurada em uma das escoras da laje... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Muitas garotas foram atendidas na enfermaria para
curativos, outras foram para um banho extra porque haviam soltado seus esfíncteres...
e eu, bem... fiz uma revelação: vira a Madre Superiora em trajes íntimos
enxugando os cabelos, porém não contei que a confundira com uma bruxa e que saíra
dali apavorada de medo!<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-44504007801691711402013-04-22T07:48:00.001-07:002013-11-18T09:53:33.960-08:00A passagem assombrada (I) <div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfbRjUkSYG1QSk-MJiCc5RyjOg4bPSODr2azwX_K-ZSLBtma-Up4KOt0n3lc3dgMV4B2xICQAt4RHLHS2ls9ZXGdxE4GxccXZJIyAdDJSumttsTJZti5ZL_ZvlleFzAvzbmti4U9daphQ/s1600/ESCORAMENTO20120627_094214%5B1%5D.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhfbRjUkSYG1QSk-MJiCc5RyjOg4bPSODr2azwX_K-ZSLBtma-Up4KOt0n3lc3dgMV4B2xICQAt4RHLHS2ls9ZXGdxE4GxccXZJIyAdDJSumttsTJZti5ZL_ZvlleFzAvzbmti4U9daphQ/s1600/ESCORAMENTO20120627_094214%5B1%5D.jpg" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Depois de uma longa temporada distante do meu blog aonde
e dentro do qual vou refazendo o meu passado volto escarafunchando minha
memória, nos longínquos anos da década de 1950 no internato em um colégio no sudoeste do Estado
Minas Gerais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quero recordar aqui que
entre 1949 e 1960 estive
estudando em tradicional colégio cuja rigidez e disciplina assemelhava-se ao
regime militar. Só não éramos obrigadas
a bater continência, entretanto, o respeito, a obediência à hierarquia,
a disciplina rigorosa, o temor às penalidades se assemelhavam bastante. Uma
campainha ou uma sineta, sempre avisava que a hora havia chegada para
interrompermos o que estávamos fazendo e
iniciar outra atividade. Esse movimento era sempre feito em fila e em silêncio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em um desses momentos, depois do recreio do jantar, já
na volta da capela, onde tínhamos passado quase uma hora ( rezando umas,
cochilando outras, em devaneios a maioria) aconteceu um fato bastante
engraçado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> O colégio estava
em reforma, em construção de uma laje no piso superior que faria a ligação
direta entre a ala dos dormitórios e capela, e a das salas de aula e outras dependências.
Essa providência foi para que o percurso entre os locais se fizesse com menor
tempo e desgaste físico. O trajeto entre as duas alas era feito dando-se uma volta subindo e
descendo escadas ou passar sob a laje em
construção, isto é , entre as escoras de madeira que mais parecia uma
floresta, que nesse momento se encontrava no escuro. A passagem por ali ainda
não estava liberada por causa dos entulhos; não sei por que, naquele dia,
mudaram-se as ordens.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Havia uma porta
que ligava um corredor a essa área escura
de uns 20m por onde deveríamos passar caminhando até a outra ala. A ordem para a garota que estava na frente da fila era
para que acendesse as luzes do lado de fora antes que abrisse a porta. Mas ela
se esqueceu desse detalhe e a porta foi escancarada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ora, o que aconteceu a seguir foi um somatório de atos
impensados de mentes se refazendo da quietude mental de momentos anteriores. Ao abrir a porta o
impacto com o cenário foi assustador! Alguém “viu” um homem ali e começou a gritar: um homem!...Um homem!...
a fila toda vira-se em sentido contrário de uma só vez atropelando quem ainda
estava <i>dormindo</i>, numa gritaria só, em
desespero como um estouro de boiada. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O desenrolar desse acontecimento ficará para o próximo
post. Aguardem!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-13095463254180062772013-01-06T02:02:00.000-08:002013-11-18T10:17:33.671-08:00A MANGA E OS MARIMBONDOS<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxpvZJEnvZWSGKuDNslOBrfrlOQZE17RBWqst-JKQ_CrhT2bI62kGI-jzdmj0Jpc4qFxXSrKC1RJFJi2QzfpSqyFMfLehux2rkm8FSjm2Qq_NBmL03pePN91NiFTVmRaorqIqq2HfOrOg/s1600/casa+de+marimbondos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxpvZJEnvZWSGKuDNslOBrfrlOQZE17RBWqst-JKQ_CrhT2bI62kGI-jzdmj0Jpc4qFxXSrKC1RJFJi2QzfpSqyFMfLehux2rkm8FSjm2Qq_NBmL03pePN91NiFTVmRaorqIqq2HfOrOg/s1600/casa+de+marimbondos.jpg" /></a></div>
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No internato, as
opções de diversão eram restritas às oportunidades que o próprio colégio pudesse
oferecer. Duas vezes ao ano, eram-nos proporcionados passeios fora da cidade,
de preferência em fazendas onde a meninada pudesse curtir à vontade, sem
grandes preocupações para as irmãs. Essas “preocupações” giravam em torno da
presença masculina que pudesse despertar em alguma moçoila um olhar menos
inocente, uma intenção um pouco mais avançada. (Sobre esse assunto, em outra
ocasião relatarei um fato interessante). Esses passeios eram programados com
antecedência porque nem sempre havia quem se dispusesse a oferecer refeição
para um bando de esfomeadas. É bom lembrar que qualquer comida diferente da que
era servida no colégio, aguçava o carente paladar da criançada... Qual não
seria então a reação provocada por uma comidinha da roça? Bem, enquanto o
almoço ficava pronto, podíamos passear pelos lugares permitidos, andar a
cavalo, brincar na água se houvesse oportunidade, subir em árvores e comer as
frutas apanhadas no pé, que delícia!... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quase todas as internas tinham o pezinho na roça, éramos
filhas de fazendeiros, sabíamos de tudo sobre a vida na fazenda! Mas, havia
algumas bem urbanas que não tinham o menor traquejo com a vida rural. Monjolo
era cavalo de pau e cabaça, abóbora de madeira... Não preciso dizer o quanto
eram criticadas pelo “mico”! Nós as ruralistas estávamos em nosso ambiente... éramos
desenvoltas, conhecíamos tudo naquele ambiente!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em um desses passeios o pomar era lindo, muitas árvores
frutíferas, laranjeiras, mangueiras, pés
de jaboticabas, de abacates, bananas, abacaxis e outras... entre as fruteiras a
que mais me chamou a atenção, foi a mangueira que estava com as frutas ainda
verdes, iniciando o processo de amadurecimento. Despertou-me a atenção
particularmente uma manga lá no alto, linda, rosada... Não tive dúvida, em dois
tempos eu estava lá em cima! Ao meu alcance a coisa mais cobiçada naquele
momento. Faltava apenas um impulso para alcança-la, ali a dois palmos da minha mão...Foi quando
impulsionando o corpo com o pé num galho mais alto... era tudo o que faltava
para alcança-la... e... isso foi também tudo para ser maior carão que passei em minha vida!
Bati com a cabeça numa caixa de marimbondos! Podem imaginar o que aconteceu? A
bicharada se viu atacada e voltou-se em perseguição ao agressor, no caso, eu. Não
sei como, mas cheguei lá em baixo. Da metade da árvore escorreguei, da outra metade, caí! Esparramei-me
no chão, coberta de marimbondos! Atacaram-me por todo corpo, principalmente na
cabeça e no rosto. Quem pode avaliar o que é ser picado por centenas de ferrões
desse agressivo inseto? Tudo bem, eu invadi o espaço deles, mas precisava uma
resposta tão hostil???<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O resultado do
fato foi uma tragicomédia. Comecei a inchar. O edema cobriu-me todo o rosto. O
estojo de primeiros socorros das irmãs,
se é que tinha algum,não estava preparado para tal incidente. Vieram lá com um
tal de azul de mitileno, como próprio nome diz, um líquido azul anil que passaram
em todas as picadas, isto é, em todas as partes descobertas ou mal cobertas. Imaginem
a situação. As pálpebras, os lábios, as orelhas, o nariz, o pescoço... inchados
e azuis, parecendo uma assombração. As colegas, nem preciso dizer, quase
tiveram um ataque de tanto riso!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Entretanto, eu
garanto, o vexame não foi pior que a dor
sofrida! <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-42515754894997866442012-12-18T21:36:00.000-08:002012-12-18T21:36:05.988-08:00REQUEIJÃO COM GOIABADA<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Este blog
destina-se a contar minhas lembranças de um passado distante, década de 1950,
quando as famílias que quisessem educar seus filhos, teriam que envia-los para
o internato, pois não havia escolas que fossem além das quatro séries iniciais
em muitas cidades do interior. Esse era o tempo máximo de estudo para muitos
que não tinham condições de enviar seus filhos para casa de algum parente na
cidade, ou para o internato, como meus irmãos e eu frequentamos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Já fiz vários relatos de como era nossa vida no
internato. É bom que se diga que não era
fácil! Viver longe da família, obedecer a regras rígidas... a convivência com
outras meninas cada qual com sua personalidade, sua educação de berço... Era um
exercício de acomodação ou adaptação em que se aprendiam na convivência, muitas
vezes, quebrando a cara... Literalmente! Havia uma coleguinha que volta e meia
metia uma tapa na cara de alguém. Não raro, no recreio, havia uma apartação de
briga.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Algumas
colegas tinham o péssimo hábito de furtar objetos alheios. Outras egoístas, não
emprestavam nada e muito menos repartiam suas merendas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">As merendas
que levávamos de casa ou que recebíamos das visitas, guardávamos em uma
dispensa comum a todas as internas em uma espécie de baú individual, alguns com
chave. Após as refeições, quem quisesse e tivesse algo ali guardado, poderia se
servir e convidar as amiguinhas para compartilhar. Como tinha gente interesseira...
Bastava saber que alguém tinha sido chamada ao parlatório (sala onde recebíamos
visitas), e isso era um sinal de que a fulana seria presenteada com guloseimas,
para as “amigas” se alegrarem! O motivo nem era pela visita que a colega estava
recebendo e sim pelos doces que ela ofereceria... Nessa hora era tanto abraço, tanto beijo, tantos votos de amizade,
bilhetinhos... Puro interesse!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Havia uma
colega que recebia doces quase toda semana. Por mais que fosse adulada, ela só
chamava para o “quartinho”, ou seja, a tal dispensa, quem ela bem entendesse.
Sabíamos que ela tinha recebido goiabada
e requeijão e que nós, eu e Margarida, não estávamos na lista de suas
convidadas. Pedir? Muito humilhante! Que fazer então para saborear aquela
deliciosa goiabada acompanhada de um maravilhoso requeijão mineiro, daqueles
feitos em casa no fogão a lenha! Estudamos os meios e fomos direto ao propósito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A dona dos
doces era intransigente, mas, não era esperta, ou melhor, era ingênua, deixava
aberta sua caixinha com toda preciosidade dentro dela! Estava fácil! Sem problema!
Mas... havia um sim! Como tirar um pedaço sem que ela percebesse e passasse a
trancar a caixa? Bolamos então uma estratégia. A caixeta de madeira onde estava
contida a goiabada caseira tinha uma
tampa que corria dentro de canaletas laterais da caixa. Ao puxar a tampa a
caixa se abria só o necessário. Daí veio a ideia: se puxarmos a tampa toda, e
começarmos a retirada do doce a partir da outra extremidade, ela vai demorar
para perceber! Bem, quando a garota percebeu...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Foi assim
que a famosa goiabada teve um final feliz!<o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-84687058080796876442012-10-29T09:46:00.001-07:002012-10-31T05:16:02.891-07:00AS EXTRAVAGÂNCIAS DA MADRE SUPERIORA<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O Colégio
atendia alunas em regime de internato semi-internato e externato desde os
primeiros anos de vida escolar, isto é, alfabetização até o ensino médio, ou
seja, o Curso Normal (Magistério) que era o estágio máximo de estudos que a
maioria das mulheres conseguia chegar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Era muito
precário o sistema de ensino; as cidadezinhas tinham cada qual o seu Grupo
Escolar onde os alunos encerravam suas carreiras na 4ª serie. Raros, os que
tinham melhores condições financeiras e que podiam arcar com as despesas das
mensalidades no internato, avançavam nos
estudos. Para isso existiam colégios de cidades maiores, geralmente dirigidos
por religiosos, homens e mulheres empenhados em educar a juventude, que se congregavam sob um regulamento próprio.
Cada congregação fazia seu currículo de acordo com as próprias conveniências. Até
os livros adotados tinham a procedência de editoras próprias que suprimiam
fatos históricos relevantes, mas que depreciavam sobremaneira a imagem da
estrutura fundamental a Igreja Católica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Havia
colégios liberais, convencionais e rigorosos. Aos poucos essas instituições foram se modernizando, não conseguindo se manter, tiveram que se adequar. O fato é
que os antigos internatos se transformaram abrindo espaços para outras
atividades educacionais mais abertas, mas ainda carregadas de preconceitos e
sectarismos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O colégio onde cursei as primeiras séries era dirigido por um grupo de irmãs religiosas
cada qual com sua função específica. A Madre Superiora cuidava da parte
administrativa e a Madre Diretora
ocupava-se dos assuntos pertinentes ao ensino. Esta era famosa pelos seus
gritos! Se algo fugisse aos preceitos disciplinares, de onde
ela estivesse mandava um berro que provocava um sobressalto geral. Todo mundo
morria de medo da tal irmã. A outra, a superiora, essa superava em extravagância.
Quando cismava queria corrigir da maneira mais inusitada o que achava errado. </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Certa
tarde, depois do recreio, a Irmã responsável tocou a campainha chamando para sala de estudos. Era o momento de preparar
para a aula no dia seguinte. A irmã badalava a campainha e ninguém ia para a
fila. Bateu uma, duas, três e nada... parecia que todas as internas estavam surdas ... aí apareceu na sacada a Madre Superiora. Quando percebemos
que vinha bronca, tratamos de ir para a fila, quietinhas! Mas não adiantou... Daí
a alguns minutinhos aparece a Madre com força total agitando a sineta,
que devia pesar umas 300 gramas de puro bronze. Agitava com a mão esquerda,
cansava , passava para a direita, foi revezando até cansar por uns dez minutos.
Depois mandou-nos subir para a sala. Até aí, tudo bem, nada de falatórios nem
sermões. Entramos na sala. Era costume ao chegarmos na própria carteira, devíamos esperar
até que a última entrasse para fazermos
a oração de pé. Depois então é que poderíamos assentar ou sair para outras
atividades. Surpresas, achamos que estava tudo normal... não teve bronca... Foi
quando ela pegou a campainha e a entregou para jovem que estava saindo para a
aula de piano. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">_ Toque! Disse
ela. A moça sem entender pegou a sineta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">_ Toque, não
sabe como se toca uma campainha? A moça agitou a sineta e a um gesto da madre
passou para outra. Estávamos de castigo tocando sineta a tarde toda até a
ultima garota da sala. Um detalhe: quem fizesse cara de riso ou crítica, tinha
o castigo dobrado...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> As atitudes tresloucadas dessas irmãs que ocupavam
lugar de destaque na direção do colégio eram uma nota espetacular, motivo para
comentários que rapidamente sairiam muros a fora. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Há pessoas
a quem não importa o papel ridículo que representa diante do estrelismo de um
momento. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-10371221103900568582012-09-20T12:38:00.000-07:002012-09-20T12:38:04.496-07:00O INCIDENTE DO NECROTÉRIO<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Aos poucos
minha vida voltou ao normal. Tive que me esforçar bastante para alcançar a
classe. A minha recuperação se deu por completo e minha vida passou ao normal,
sempre buscando novas atividades que pudessem minimizar aquela monotonia
sufocante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Certo dia, um
alvoroço envolvia as meninas externas provocando nas internas, curiosidade e
expectativa. Soubemos então que havia um
corpo no necrotério. Falando assim,
parece normal, porque é o local apropriado onde se colocam as vítimas fatais de
acidentes até que sejam liberados e
resgatados pelas famílias.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O tal
necrotério não era o IML de hoje com salas equipadas, refrigeradas, apropriadas;
era uma salinha na entrada do cemitério. Na verdade, esse cemitério já se
situava dentro da cidade bem próximo ao colégio. De algumas janelas do
dormitório viam-se os túmulos, o que para a maioria das colegas era motivo de apreensão e medo e... muita fantasia. Era
frequente acordarmos com os gritos de alguma menina que fantasiava a aproximação
de espíritos confundidos com a sombras em movimento dos eucaliptos projetadas nas paredes. O
cenário era ideal para a “imaginação solta” das internas. A proximidade do
cemitério, a luminosidade dos postes da rua e a respectiva sombra das arvores,
o vento sibilando e provocando batidas de janelas e vidraças... Bastava uma
menina gritar para provocar pânico na meninada estendendo-se por todos os
dormitórios. Umas gritavam por medo, outras entravam na onda por pura farra! A
barulheira naturalmente acordava o colégio colocando as freiras em polvorosa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Bem, no dia
do incidente do necrotério, a curiosidade fez com que criássemos uma estratégia
para burlar a vigilância e sairmos do colégio sem sermos notadas. Eram dois os
portões que davam acesso ao colégio. Um servia de entrada e saída para as
externas, o outro servia aos trabalhadores da obra de ampliação do colégio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O plano era
colocar uma colega bem grandalhona para conversar com a irmã que vigiava a
saída das externas e passarmos despercebidamente como se fôssemos uma delas.
Até aí tudo bem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">As
complicações começaram com a exposição do cadáver naquele lugar. Grande número
de curiosos se acotovelava para ver por segundos o objeto raro ali exposto. Entre
a sala onde estava o defunto e o hall do cemitério havia uma escadinha e uma porta de metal com a parte superior em
grade possibilitando a quem tivesse altura bastante, visualizar o seu interior.
Quando enfim consegui chegar à porta, vi que não tinha altura suficiente. Foi
dando alguns saltos que consegui ver. E o pouco que vi me provocou desarranjo
estomacal e uma imagem que se alojou em minha mente por muitos anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Contaram
que era de um suicida aquele corpo que
ali estava exposto. Havia deitado sobre os trilhos da linha da Mogiana. O trem
o degolou e partiu suas pernas. O que jazia sobre uma mesa era algo
estarrecedor! O tronco nu, mutilado, branco como macarrão cozido, apenas
cobertas as partes íntimas, a cabeça do lado direito e as pernas colocadas no
sentido transversal...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Voltamos
para o colégio sem maiores dificuldades, aproveitando a entrada de um
carregamento de material que camuflou a nossa
passagem. Era hora do almoço, a
vigilância estava menos atenta.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Entramos no
refeitório. Nesse momento, elaborei a maior associação de ideias, com
consequências duradoras, para a vida toda. Sobre as mesas estava uma travessa de macarrão branco. A associação
foi perfeita e imediata. Saí correndo do refeitório em busca da “casinha” para
desembaraçar-me do que estava revoltado no meu estômago.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Essa
transgressão trouxe consequências desagradáveis para todas as que participaram.
Impressionadas, o incidente por muito tempo foi motivo de pesadelos e muita
gritaria no meio da noite...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<h2>
<span style="font-size: 14.0pt; line-height: 115%;"> </span></h2>
<h2>
<span style="color: red;"> </span></h2>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-81553337091898415782012-09-13T19:27:00.001-07:002012-11-11T12:06:17.022-08:00UM FINAL FELIZ (VI)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Imaginem o que é permanecer 15 dias deitada em cama de
hospital com um dreno vazando o tempo todo, sem poder tomar banho completo...
comendo uma gororoba sem sabor... com necessidade de me movimentar, correr,
brincar... Comer um franguinho ao molho, feito no fogão caipira, com arroz e
farinha. Ah! Que delícia! Era a minha preferência naquela época!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na verdade, tinha saudade de tudo, da fazenda, das
colegas, até do colégio! Meu consolo era
a presença paciente e acolhedora de Mamãe, dividindo comigo, é claro,
aquela situação desgastante.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando recebi alta, surgiu novamente a indecisão e a discussão
sobre voltar ou não para a fazenda. O bom senso determinou que eu ficasse em F
onde eu teria a assistência médica e um tratamento adequado. Voltaria então
para o colégio, para minha contrariedade. Naquele momento não me importava de
perder o ano letivo, pois me sentia frágil, indefesa, sozinha!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A recomendação era para que eu ficasse em repouso
absoluto, o máximo de tempo possível deitada do lado direito para que a
secreção pudesse escorrer livremente até que terminasse todo aquele processo
infeccioso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Acomodaram-me na enfermaria no piso térreo do colégio onde
eu ouvia a movimentação das meninas, a algazarra na hora do recreio e recebia as visitas
clandestinas das colegas.Não havia razão para a clandestinagem se não fosse
proibido! Estávamos sempre prontas para burlar o regulamento, eram tantas as
regras que para segui-las chegaríamos próximo à santidade. Esse foi o agravante
para que me transferissem para o
dormitório.Trancado o dia todo,eu só podia ver minhas colegas à noite quando iam dormir.Eu só
recebia a visita de algumas colegas para me passarem o conteúdo das aulas. Não sei
por que fui colocada sob esse regime... não estava com nenhuma doença
contagiosa... Imaginem como eram longos os dias... e as noites...Dormia muito
durante o dia e à noite ficava insone olhando o balançar das árvores na janela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Hoje tenho as respostas para a minha submissão a essa
disciplina. Era cultural e natural obedecer. Obedeciam-se aos pais, aos irmãos mais velhos em casa, aos
professores, às convenções sociais, ao marido e por último aos filhos... Nunca
se rebelar, nem se posicionar contra essa ou aquela ordem. Assim me sujeitei passar
meses naquela situação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Recebia a visita do medico regularmente até quando ele tirou o dreno. A ferida foi
cicatrizando ao comando da própria natureza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Há males que vêm para o bem. Nesse tempo fiquei
conhecendo umas primas de papai que moravam em frente ao colégio. Eram, a mãe
já bem idosa e três filhas solteiras já quarentonas. Pessoas maravilhosas, uma mais carinhosa
que a outra, se prontificaram a me abastecer
de frutas e guloseimas. Todos os dias me
mandavam uma copada de vitamina. Eu ficava ansiosa para chegar a hora em que tomaria a deliciosa batida
de frutas com leite. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Até que enfim a ferida cicatrizou completamente e pude
sair do “castigo” e frequentar as aulas.
Fui dispensada da missa todas as manhãs
e do terço à noite, para inveja das colegas. Meu horário era diferenciado,
deitava cedo, e levantava mais tarde. Tinha sempre alguém para me acompanhar no
banho e uma das normalistas para me ajudar com os deveres de casa. Na verdade, estava
me sentindo bem paparicada!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Este drama
vivido por mim na minha infância me ensinou a valorizar as pessoas, a ver a família
com os olhos do coração quando ela sofria comigo as minhas dores; pequenas
coisas, que entre a abundância em um
momento e a carência no outro, me fizeram refletir e avaliar o quanto eu estava
sendo amparada e protegida nos dois planos da vida. Para que eu sobrevivesse,
uma verdadeira batalha foi travada, com um final feliz para todos, graças a
Deus! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-86839167185785710882012-08-29T12:51:00.001-07:002012-11-11T12:05:25.243-08:00DE VOLTA PARA O HOSPITAL (V)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu estado geral estava cada vez mais debilitado, ao
contrário do que se esperava. Começava sentir dores que foram se acentuando até
que uma noite, comecei a gemer e chorar, não conseguia dormir... Minhas irmãs
que dormiam no mesmo quarto que eu, chamaram a mamãe. Sem saber o que fazer, na
tentativa de aliviar a minha dor, puseram-me
numa bacia com água quente, deram-me analgésicos, fizeram compressas, chás... nada resolvia! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Começaram então os preparativos para o retorno ao
hospital.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Naquele momento, no estado em que me encontrava de fraqueza
e dores intensas, buscava refúgio no carinho e atenção de minha irmã Teca, minha madrinha de Crisma, a quem eu
chamava de <i>Midinha.</i> Minha irmãzinha
querida que já partiu para outro plano, se desdobrava em atenções procurando me
dar conforto com seu carinho, cobrindo toda minha carência afetiva do momento! Quem
já passou por uma dor física muito
grande, um sofrimento intenso, entende o valor do aconchego amoroso, dos cuidados,
da atenção! Não alivia a dor, porem conforta, protege, ampara! Era o que eu
mais precisava no momento!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Considerando as dificuldades que eu bem conhecia, o
meio de locomoção, a distancia de mais
ou menos 60 km de estrada de terra péssima,
eu sabia que o pior estava por vir; a viagem seria um deus-nos-acuda. Os buracos
e empecilhos naturais de uma estrada de chão, não permitiriam uma marcha mais
acelerada. Sabia que apesar de toda boa vontade dos meus familiares, todo
desejo de me proporcionarem conforto, aquela seria uma experiência dolorosa na
minha vida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">De madrugada ainda, prepararam um jeitinho no jeep onde
eu pudesse viajar deitada para que eu
tivesse mais conforto e não sentisse tanta dor. Saímos. Mamãe como sempre, rezando, me confortando
e chamando a atenção do papai para que tivesse paciência comigo...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu maior desejo era ficar livre daquele incômodo o
mais rápido possível, por isso, procurava me controlar, manter-me em equilíbrio
sem gritar, embora essa fosse a minha vontade. Deveria me manter firme sem
reclamar porque assim fui educada, não deveria dar motivos para que papai
ficasse nervoso. Que viagem longa! Era uma situação em que a cada buraco da
estrada a trepidação mexia com minhas vísceras e a minha impressão era de que meu
abdome ia estourar tal tensão que havia. Eu ainda encontrava energia para
segurar a barriga na esperança de encontrar meios de sofrer menos. Mudava constantemente
de posição, chorava, me mordia, mas, nada trazia alívio. Até que enfim
chegamos. Uma maca veio para me levar para a emergência onde fui examinada. O médico,
o mesmo que fez a cirurgia, veio querendo apalpar minha barriga. É claro que
não deixei! Ninguém podia me tocar! Daí para
frente não presenciei mais nada. Deram-me sedativos que me apagaram, mas eu me
lembro que continuava sentir dor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando acordei estava no quarto, deitada do lado direito, sentindo um
desconforto como se tivesse feito as necessidades na cama, com uma poça de um líquido amarelado, com mau
cheiro do lado dos meu quadris. Sem compreender o que estava se passando chamei
a mamãe apavorada para me explicar o que era aquilo. Ela disse: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ É pus, minha filha! Está saindo da sua barriga...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Naquele momento senti uma vertigem, a vista escureceu,
se não estivesse deitada teria caído!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mamãe me contou
então, que havia sido operada de novo e que ao toque do bisturi na cissura, o
pus que estava represado no meu abdome ao se ver livre, espirrou com tanta
força que alcançou as pessoas que estavam à minha volta, médicos e enfermeiras até
as paredes da sala de cirurgia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Soube mais tarde que a infecção tinha se formado entre
as duas películas do peritônio, para minha sorte, se não, eu jamais poderia
estar aqui contando essa minha experiência. <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-39237881400626047832012-08-25T08:15:00.001-07:002012-11-11T12:04:33.073-08:00EXPECTATIVAS... (IV)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Os três últimos
contos, <b><i>A cirurgia, A tumultuada comunicação e O arriscado trajeto,</i></b> deram
início à saga envolvendo meus familiares, as irmãs do colégio, o motorista do
carro, sem falar no transtorno por motivo das festividades que estavam por ocorrer no Colégio, em que as irmãs tiveram que dividir comigo, o
tempo e as preocupações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A viagem da cidade de I para F transcorreu dentro da normalidade
apesar do tempo, porque continuava a chover. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Havia passado dois dias após a cirurgia, e eu no
hospital, já sabia que minha família tinha
sido avisada e que Mamãe chegaria a qualquer
a momento. Estava para explodir de saudades! Chorava muito, não queria comer. Estava
aborrecida com tanta injeção, tanto comprimido um deles era enorme, tinha um
gosto muito ruim. Na peleja para engoli-lo acabava por de dissolver na boca,
uma tragédia! Aí vinha o vômito; nessa hora a barriga doía, não podia fazer
esforço com a musculatura do abdome. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mamãe e Rubens entraram no apartamento do hospital
justamente no momento em que abrindo os olhos, após uma soneca, vi a imagem mais linda e querida que pude gravar
em minha mente! Nada havia que eu quisesse mais, que não fosse a presença de
mamãe ao meu lado! Que alegria! Que ternura! Para minha satisfação, não fosse
pelos incômodos, diria que foi o momento mais feliz de minha vida!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fui muito paparicada... Toda hora tinha visita! Eram as
irmãs do colégio, as colegas de classe... Até as internas tinham permissão para
me visitar!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Chegou o dia da alta. Papai iria buscar a mamãe e discutir
o que seria melhor pra mim. Ficar de vez no Colégio me recuperando ou ir para
casa passar uns dias na fazenda. O consenso optou pelo último. Eu estaria com a
família sob cuidados especiais, muito ar puro, alimentação saudável, etc. Dificilmente
eu teria melhores cuidados a no internato. Todos esperavam uma recuperação tranquila.Foram prescritos os devidos cuidados
com a medicação, alimentação, repouso... Lembro-me da recomendação de fazer
breves caminhadas e ter atenção com a postura. Quando o corte é no abdome, a tendência
das pessoas é curvarem-se para a frente. Meu pai tinha
muita energia quanto a isso, estava sempre me corrigindo!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entretanto eu não estava disposta a andar. Não queria
fazer nada... Mamãe fazia as comidinhas que eu mais gostava, mas, nada me
apetecia... Comecei a dar preocupação. Todos esperavam inclusive eu, que a cada dia eu demonstrasse maior
disposição, e me entusiasmasse com as coisas ao meu redor... mas meu corpo não
queria, estava pesado... Um abatimento muito grande tombou sobre mim e comecei
a sentir dor... Muita dor!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Teria sido melhor se eu tivesse feito minha recuperação
no colégio, onde teria a assistência médica
caso precisasse?Teríamos evitado transtornos, sofrimentos e preocupações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Muitas vezes tomamos as decisões que nos parecem
acertadas, decorrentes de um consenso
lógico, todavia, somente Deus sabe o que nós precisamos passar como reajuste
das nossas próprias deficiências espirituais. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Infelizmente, ainda não será dessa vez o desfecho desse
episódio. Em respeito ao tempo do leitor, considerando que ainda tem relatos extraordinários,
que ultrapassariam os limites que eu defini como relevantes para uma leitura no mínimo, rápida, decidi por fracionar esse caso.
Obrigada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-60826028828912188232012-08-21T12:40:00.001-07:002012-11-11T12:03:48.523-08:00O ARRISCADO TRAJETO (III)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A chegada
do Rubens a cavalo na fazenda, como não poderia deixar de ser, provocou em
todos da minha família, os que lá estavam,
muitíssima estranheza. As perguntas, as mais diversas, foram feitas
de uma só vez. Que você esta fazendo aqui? Fugiu do Colégio? Como você veio?Quem te trouxe? O menino não
conseguia falar tal a comoção do momento. Até que papai com sua voz possante bradou:
<i>Deixem
ele falar!</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O menino
contou toda história. A minha operação e a dificuldade de comunicação. Entregou
a carta das freiras relatando as providências tomadas. Disse também que havia
um carro à espera do outro lado da ponte e que esta estava parcialmente destruída.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Rapidamente
foram tomadas as providências: mamãe iria no carro que estava aguardando, junto
com o Rubens. O outro meu irmão, o João que já passava dos vinte anos, os
levaria no jeep até o local.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">As ordens foram
distribuídas para que os preparativos fossem
feitos; uns cuidar dos documentos,
dinheiro; roupa, mala e a janta para o
Rubens e o motorista.Tudo preparado com o mínimo de tempo possível porque não
tardaria a anoitecer e o motorista, coitado, estava há horas sem se alimentar. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Foi
preparado um farnel com a provisão necessária para não passarem fome, caso
tivessem que passar a noite na estrada: água, a marmita com a refeição do
motorista, frutas, uma garrafinha de café, biscoitos, bolo... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Minhas
irmãs, Teca e Maria I, ficariam com papai tomando conta da casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Ao chegarem
nas proximidades do local, João percebeu que teriam dificuldades para
atravessar com a mamãe. Havia uma descida íngreme com lama, e da mesma forma do outro lado da
ponte, uma subida ainda mais inclinada e escorregadia. E como não bastasse esse
problema, havia um enorme rombo no assoalho da ponte. Em grande parte dela as
vigas estavam expostas. A grande pergunta: mamãe conseguiria se equilibrar?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Como não
poderia deixar de ser, Mamãe, religiosa como era, arrancou o terço da bolsa e
começou a rezar... Ela estava muito apreensiva com tudo o que estava
acontecendo, não era possível desistir àquela hora, já quase escurecendo... Por
outro lado, supondo que transporiam esses obstáculos, quem poderia garantir uma
viagem tranquila visto que a noite aproximava, o motorista cansado, a estrada continuava ruim com os
mesmos buracos, poças e lama que provavelmente teriam aumentado... Foi
refletindo assim, intuída naturalmente, que ela decidiu que o João deveria atravessar, levar a
janta para o motorista e um pouco de dinheiro em sinal de adiantamento e pedir
a ele que voltasse até a cidade de I, ali
se hospedasse numa pensão e os esperasse no dia seguinte para seguirem viagem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">De onde
eles estavam não se podiam ver se o carro ainda estava lá os aguardando. A
estrada do outro lado, além de íngreme era também sinuosa, contornava o
barranco logo após a ponte, sempre em curvas ascendentes. Rubens gritou seu
nome várias vezes, nada do senhor responder...
João resolveu ir verificar. Pegou marmita, dinheiro e o endereço da pensão e um facão que
sempre carregavam no jeep. Atravessou e subiu morro acima do outro lado da
bendita ponte. Chegando lá encontrou o carro atolado e o motorista dormindo. Meu
irmão se apresentou passando-lhe a marmita pedindo desculpas pelo transtorno e
passou-lhe as instruções. Enquanto o homem jantava, João foi cortar alguns
galhos e procurar pedras para desatolar o carro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Enquanto
isso a noite chegou. Com muito trabalho conseguiram desatolar o carro, e o senhor
a contragosto seguiu para a cidade. Os meus voltaram para a casa, para alívio
de todos os que ficaram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">No dia
seguinte, de madrugada, saíram, desta vez com papai. Pegaram outra estrada que dava volta de vários quilômetros, porem sem
sobressaltos. Era uma via intermunicipal, embora de terra, era melhor cuidada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Em I
encontraram o senhor esperando na pensão com cara de poucos amigos, porém com
meia dúzia de palavras, papai o acalmou.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Na verdade
não precisava mesmo muita pressa... eu já tinha sido operada e estava passando
relativamente bem, embora com uma vontade louca de ter a Mamãe ao meu lado...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">No próximo post
terminaremos este episódio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-89327771834270605872012-08-16T18:54:00.001-07:002012-11-11T12:02:54.714-08:00A tumultuada comunicação (II)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A modernidade trouxe para o mundo em termos de tecnologia
da informação, as mais avançadas invenções na arte de comunicar. Não há necessidade
de enumera-las, visto que todos as conhecem. Extremos intercontinentais não são barreiras para se
entabular relações, desenvolver negócios, transmitir notícias em tempo real. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Na década de 1950, época em que se deram os fatos que estou
narrando, não era assim. Havia sim telefone, o meio mais rápido de comunicação.
Entretanto, poucas eram as casas que possuíam um aparelho. Era complicado fazer
interurbanos. Estes eram feitos via telefonista e contar com a boa vontade dela
para chamar quem não tivesse o aparelho em casa. Um moleque de recados estava
sempre disposto a ganhar uns trocados. Mas, quando a chamada era urgente para
alguma fazenda, a melhor providência seria
um taxi ou carro de praça como era chamado na época.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A confirmação da minha cirurgia trouxe para as irmãs
novas preocupações e problemas. O colégio, por meio de seu representante legítimo,
assumiria todo encargo junto ao hospital e à família.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> No primeiro
caso, a solução era de ordem prática, bastavam algumas assinaturas e tudo
estava resolvido! No segundo, a providência seria avisar a família, o que
parecia complicado dado a exiguidade dos meios de comunicação sabendo-se que meus pais moravam na fazenda. O
que as irmãs não contavam era com a falta de informação da minha ficha onde havia só o endereço postal
de uma fazenda, nada mais!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Uma carta? Nem
pensar! Demoraria uma semana ou mais... Os
Correios de cidades de interior não ofereciam serviço de entrega de
correspondências. Essa era uma providência
descartada... Telefonema? Como? Ligar
para onde? A fazenda não tinha um aparelho. Poderia usar o sistema via
telefonista. Do Colégio para a central
de F, pedir ligação para o centro telefônico de I, (cidade mais próxima
da fazenda de meus pais) pedir então que a telefonista enviasse alguém até a
fazenda com o comunicado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tudo bem se não fosse por dois detalhes importantes: chovia
muito e a estrada de terra era horrível, todos os motoristas se admiravam da
coragem do meu pai em aventurar-se por ali. A telefonista não conseguiu quem se
dispusesse a tal façanha...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Estaca zero! Melhor seria mandar alguém com uma
carta... mas e o endereço da tal fazenda? Era temerário fazer uma viagem rumo
ao desconhecido sabendo-se que iria enfrentar chuva e muita lama... Foi quando alguém
se lembrou dos meus irmãos que também eram internos em outro colégio só para
meninos, na mesma cidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Até que enfim, uma luzinha se acendia no final daquele
beco!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Puseram meu
irmão Rubens num taxi e lá foi ele com a incumbência de dar a notícia aos meus
pais e mostrar o caminho ao motorista que após passada a minha cidadezinha I,
percebeu que a estrada que não era das melhores, estava agora piorando... O
homem já começava a reclamar e entender que tinha entrado numa roubada...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Meu irmão, firme, procurava não dar a entender a sua
preocupação! Estava levando uma notícia de tal gravidade e aquele homem insensível reclamando... Armou-se
de bom-senso e procurou distraí-lo com
anedotas, casos da fazenda, do colégio... Conversa vai... conversa vem... desvia
daqui, atola ali, e vamos em frente... até que, no ponto crucial da estrada, já
nas terras de papai, numa descida antes de uma pontezinha de
estrada de fazenda, o motorista desceu
do carro e percebendo que o problema era bem mais sério que imaginava, deu um
murro no para-lama falando um palavrão.E repreendendo o pobre garoto, resolveu que voltaria dalí mesmo.
Meu irmão então tomando ares de
empregador disse: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ O senhor só vai receber a corrida, se me levar de
volta para F... E eu só retorno depois de cumprido a minha tarefa! O senhor
escolhe... E falando, foi descendo. Quando chegou à ponte viu que era mesmo impossível
qualquer carro passar. A ponte estava danificada pela chuva. Atravessou, subiu
do outro lado e pensativo rezou para que tudo desse certo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A chuva já tinha passado, mas o tempo continuava fechado.
Rubens tomou um atalho entrando em um pasto onde alguns animais pastavam. Nesse
momento percebeu a ajuda do Alto que havia pedido. Com um assovio chamou um dos
cavalos que o conhecendo veio até ele. Em pêlo, isto é, sem os apetrechos de
montaria, montou no cavalo e saiu galopando.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Foi assim que, depois de muitos obstáculos, a
comunicação entre as irmãs do colégio e minha família, foi estabelecida. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-1020546127401300212012-08-08T08:15:00.001-07:002012-11-11T12:01:11.191-08:00A cirurgia (I)<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
Os relatos iniciados aqui com <i>A cirurgia </i>fazem parte<i> </i>de uma série de posts que vou enumerá-los para que o prezado leitor faça ligação de um acontecimento com outro não perdendo a sequência dos fatos.<br />
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Provavelmente o fato que descreverei agora, muito tem a
ver com a carência alimentar sofrida por
intolerância ao que era servido como
refeição às internas do colégio. Por mais fome que eu tivesse meus sentidos não
se esforçavam por estabelecer empatia com aquelas iguarias exibidas sobre as mesas
do refeitório. À visão daquele fígado azulado e do feijão gelado provocava em
mim tamanho asco que no mesmo instante meu cérebro passava a mensagem para o estômago provocando reviravoltas que com muito esforço conseguia dominar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Depois de algum
tempo me alimentando mal, meu organismo baixou a guarda e as consequências foram
danosas para meu corpinho de adolescente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Certo dia, o colégio estava em preparativos para evento;
todas as internas estavam envolvidas com a arrumação e designadas para ocupações de arrumação e decoração do pátio interno
onde seria armado um palco. A movimentação era intensa. Umas cuidavam de lavar
o piso e limpar as janelas, outras carregando cadeiras e mesas para compor o
ambiente e outras ainda cuidavam da decoração. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu escolhi um trabalho que considerava leve, não estava
com disposição para o trabalho pesado. Meu serviço seria desgalhar o cipreste,
retirar os ramos menores, o que poderia fazer assentada no chão atrás de um monte de galhos. Eu olhava
aquela movimentação toda me sentindo apática, sem ânimo, indisposta. Meu corpo
queria repouso... e ali mesmo atrás dos galhos me deitei e deixei o sono tomar conta... mas por pouco tempo
porque logo alguém veio e me descobriu ! Fiquei muito envergonhada e atrapalhada retornei ao
serviço. Estava ficando cada vez mais indisposta, parecia que minha cama me atraía!
Resolvi então abandonar o trabalho e atender ao chamado! Subindo as escadas que
davam para o dormitório, minhas pernas não obedeciam, e ali me deitei novamente,
quando percebi que havia ainda alguns obstáculos a serem transpostos : os degraus restantes, a porta
que poderia estar trancada, o percurso dentro do dormitório até chegar à minha
cama... não tinha forças para tanto...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Naquele horário ninguém tinha hábito de subir ao dormitório, e eu ali fiquei
sem que dessem por minha falta. Eu ainda
não tinha atinado para o que estava
acontecendo comigo. Não sei por quanto tempo fiquei ali deitada na escada...
até que apareceu um anjo bom, por sorte, a irmã enfermeira que percebeu de
imediato que algo errado estava acontecendo comigo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Quando acordei estava rodeada pelas irmãs com olhares preocupados e um senhor de branco
que me apalpava a barriga. Nessa hora, gritei de dor! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_Apendicite! Falou
ele. Operar imediatamente... Se não, pode supurar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A movimentação que já estava intensa aumentou ainda
mais. Ambulância, paramédicos, enfermeiros, maca... e eu entregue, chorando,
clamando por mamãe!... Para mim, só a
presença dela era suficiente para me livrar daquele desconforto! Chorava de dor
física, de solidão, de saudade... de angústia, de medo, muito medo!!!!!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fui levada para o hospital e a cirurgia foi feita
imediatamente à revelia da presença de meus pais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Os desdobramentos
consequentes desse fato darão espaço
para novos episódios... Aguardemos... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-52753297666114989752012-08-04T13:32:00.001-07:002012-08-04T13:32:40.210-07:00O pão nosso com sardinha de todos os dias<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A vida no internato era cheia de altos e baixos no que se
refere ao estado de espírito das internas. Nem sempre era diversão... Tínhamos momentos alegres e até felizes! Mas, havia
também ocasiões de melancolia, em que o sofrimento tinha como causa essencial, a carência
afetiva, a falta da família, as lembranças, quadros da fartura, da comida
gostosa, da liberdade... Não era raro depararmos com coleguinhas amuadas pelos
cantos chorando de saudades de casa. Acontecia que ao consola-la, caíamos no
choro também. Era contagiante...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Isso sempre se
dava em momentos de recolhimento, na capela ou no dormitório quando o silêncio
era absoluto. Eram as ocasiões em que se evocava a imagem da família reunida, o aconchego do lar, as
carícias dos entes queridos principalmente a mãe... Ah! Como tudo isso era
doído! A saudade tinha um gosto amargo, era como um punhal penetrando no peito!
Uma dor que fecha a garganta... o choro pungente
que dilacera a alma! Dor semelhante, imagino eu, à das crianças
amontoadas nos orfanatos que só é maior porque a única coisa que sabem é
que não têm um lar e ninguém que as esperem ou que preencham suas esperanças ou
ainda, não têm de quem sentir saudade...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">À medida que avançávamos em idade progredíamos em
solidariedade, tornando-nos mais amorosas; revezávamos no papel de mãe, de irmã mais
velha, e bancávamos as protetoras umas das outras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O meu grupo era formado por quatro meninas. Uma mais
velha que eu, a Margarida, garota inteligente, pouca conversa, astuta, sabia
tudo, com um lance de olhar interpretava o que se passava ao seu redor, por
isso era a líder. As duas outras eram gêmeas, Lívia e Olivia. A Margarida era
amada por todas, mas, tinha ligação mais
forte comigo e eu com ela. Olívia
gostava de todas por igual tinha boa índole era companheira para todas as
horas. Já a Lívia tinha o gênio forte, era ciumenta e egoísta. Brigava por
qualquer coisa, muitas vezes foi ameaçada de ser expulsa do grupo, por causar
intrigas, sempre comigo. Não perdia a oportunidade de me alfinetar. Mas todas
estavam prontas a agasalhar umas às outras em qualquer situação. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Valores como tolerância, repeito, amizade, sinceridade,
companheirismo e desapego eram desenvolvidos em nós, porque tínhamos que impor um
ambiente que amenizasse as condições de amargura impostas pelo regime. Tínhamos
que suprir as carências uma das outras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nosso grupinho de quatro acabou se desfazendo quando no
semestre seguinte as gêmeas não voltaram. O colégio perdeu muitas alunas e o
internato entrou numa situação de recessão que foi difícil aguentar. Para economizar água, o tempo do banho era
cronometrado. Tempo para se molhar, ensaboar e enxaguar. A irmã dava o sinal para
começar e finalizar cada movimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> A alimentação
estava intragável, mal feita, fria, sem tempero. O café da manhã era servido às
7hs. e o almoço ao meio dia. No
intervalo quem tivesse grana podia comprar lanche na cantina, quem não tivesse,
ficava com fome. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Fazíamos fila para tudo. Tínhamos que esperar todas as
alunas chegarem para entrarmos para o refeitório. Essa espera era a desculpa
para que comida posta na mesa esfriasse. A torcida era para que a gororoba
estivesse com melhor aspecto e variada, já que todos os dias eram os mesmos
pratos: arroz, feijão, bife de fígado e salada de alface com tomate. Tudo bem
se o arroz não fosse “unidos venceremos” o feijão mais quentinho e o bife não
apresentasse uma natinha esverdeada denunciando as horas que estava servido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eu olhava para aquilo e nem me assentava à mesa. Não
podia compreender como as colegas conseguiam comer aquilo... passei então a
pedir pão à copeira. Comer pão puro? Aventurei pedir café ou açúcar. Quando não
tinha café, o açúcar era bem-vindo. Abria um buraco no pão, colocava o açúcar e
molhava com água para ficar mais fácil de engolir. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tudo ia muito bem até que trocaram a copeira e não pude
mais comer um pão inteiro no almoço. Passei então a dividir o pãozinho do café
da manhã; deixava a outra metade para comer no almoço com açúcar molhado. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para fazer economia, as irmãs começaram a fabricar o
pão nas dependências do colégio. E o pão foi encolhendo...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Um dia, nos reunimos e fomos reclamar com a Madre
Superiora. Ela faltou chorar, reclamou das inadimplências e que ela não poderia
dispensar as alunas que estivessem em falta com as prestações. O motivo real
não era bem esse... Era o desvio para outro
projeto da direção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A providência
tomada foi aumentar um lanche entre o café e o almoço. Então começaram a servir
pão com sardinha... todos os dias! Eu queria morrer!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Escrever aos meus pais, reclamar, botar a boca no
trombone... Nem pensar... as cartas eram censuradas, lidas pelas irmãs. Se elas encontrassem algo
que denegrisse a imagem do colégio, mandavam corrigir.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A situação estava insustentável quando a Margarida
bolou uma forma de nos alimentarmos com algo mais substancioso. Guardávamos a banana da sobremesa, amassávamos com leite
condensado e leite em pó. Era uma delícia!Ela tinha conta em uma farmácia onde comprava por telefone.
Por muito tempo, essa foi a minha refeição do dia. Minha amiga Margarida, Deus
lhe pague pela sua afeição e solidariedade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Minhas reservas
nutritivas conseguidas enquanto em casa,
na fazenda com a fartura com que fui criada, estavam no limite... Logo meu
organismo denunciaria a desnutrição... mas isso será assunto para a próxima postagem!<o:p></o:p></span></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-52424085139050940202012-08-01T11:56:00.001-07:002012-08-01T11:56:55.791-07:00A lagartixa e o capetinha<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A vida
rotineira do internato traz muita comoção interior por ter que seguir um
regulamento rigoroso onde todos devem seguir as mesmas orientações os mesmos
horários rígidos, disciplina... disciplina...disciplina. Todas as atividades
eram realizadas em silêncio. Uma sineta ou campainha marcava a
movimentação que deveríamos fazer para
passar de uma a outra ação imediata. Se
estivéssemos em meio a uma tarefa, deveríamos suspende-la e irmos para a fila em silêncio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> O recreio significava liberdade. Em dois
momentos após as principais refeições, tínhamos
certa liberdade. Podíamos brincar, conversar ou jogar dama, torrinha ou
outros joguinhos de menor movimentação. A criatividade para as artimanhas é característica
da idade. Então a vigilância era acentuada sobre os grupinhos que preferiam
conversar. Isso pelo temor de que as irmãs
tinham de estarmos tramando algo inconveniente. Qualquer tipo de reclusão convida à insubordinação e
não era diferente para as internas de um colégio de freiras. Sair da rotina
imposta por um regulamento sufocante era um desejo impreterível, não se podiam
deixar passar a oportunidade... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Qualquer ato menos lícito tinha que ser
combinado de forma que não deixasse suspeitas. Por isso os grupinhos eram
fechados. Para se admitir um novo membro colocava-se em votação. Tínhamos um
acerto de fidelidade, cumplicidade, confiança e proteção entre os membros do
grupo. Uma liderava e as outras colaboravam com criatividade, astúcia e ação. O
que fosse sugerido pelo grupo, todas tinham que participar, antes, porém era
debatida e votada a proposta. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Muitas
vezes nos vimos em situações perigosas em que seríamos apanhadas se não
tivéssemos o pacto de fidelidade. O fato
de ser pega em situação de culpa era tão
comprometedor perante o grupo que não cabia autodefesa. Quem fosse pega em infração deveria sofrer
sozinha as consequências até que nos
reuníssemos para deliberar o que fazer. Nem sempre tínhamos tempo para isso,
então um simples olhar era o suficiente para o entendimento e a líder tomava
sozinha a deliberação o que seria seguida por todas. Geralmente
todas se acusavam, passavam por algum castigo, baixava a nota de comportamento
e perdíamos os passeios, as saídas de final de mês o que era raro. Afinal, as irmãs também
precisavam de um descanso nem que fosse por um final de semana.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Um dia, uma
das colegas encontrando uma largatixa resolveu
aprisiona-la. Levando-a ao grupo,
resolvemos que pregaríamos uma peça em alguém. Tinha que ser uma pessoa muito
chata, que merecesse ser “castigada” por nós, o que nos daria imenso prazer de
ver passar por uma atitude ridícula. Quem seria a vítima? O animalzinho não
poderia ficar por muito tempo preso... tínhamos que agir rápido. A ação deveria
então ser naquela noite em que todas as internas estivessem na sala de estudos,
em silêncio, cada uma cuidando de suas tarefas e a irmã tomando conta na frente assentada à
uma mesa sobre um estrado pequeno de madeira que mal dava espaço para as duas
peças. Para nossa sorte a irmã que ocupava esse lugar naquele dia era uma das
mais aporrinhadoras. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Num dado
momento a líder do grupo fez um sinal e nos levantamos todas e fomos até à mesa conversar com a irmã a
título de pedir ajuda para alguma tarefa. Nessa hora a colega abriu a caixinha
atrás da irmã e a largatixa pulou e tentando se esconder, enfiou-se no meio de
tanto pano que compõe o hábito das freiras. Sentindo-se solta, a bichinha
começou correr e se atrapalhar no meio das capas e a irmã desesperada se debatia
e pulava. A coitada teria caído do
estrado, se não estivéssemos perto para socorrê-la. Foi uma situação hilariante
e ainda tiramos onda de heroínas ao salvarmos
a inocente irmã.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Não conseguíamos parar de rir; aquele riso abafado de quem não
queria demonstrar falta de respeito. A irmã tentou naturalidade mas, a situação ficou insustentável. Abrimos às
gargalhadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Ao sairmos dali, fomos para a capela rezar o terço. Local exato para o
“capetinha” insuflar o mal. Bastou que uma começasse a rir para as outras a
seguissem. Ninguém mais rezava, eram só os roncos abafados dos risos presos.
Algumas meninas não puderam se conter e fizeram xixi nas calças...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Ninguém percebeu a trama... a travessura ficou
na história do internato por muito tempo. O bom é que ninguém soube de onde
saiu a tal lagartixinha! <o:p></o:p></span></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-75151326871313918892012-07-28T21:37:00.001-07:002012-07-28T21:37:24.822-07:00A superação<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A busca por
um melhor lugar ao sol é próprio do ser vivo. A planta na ausência de luz se estira entorta e contorce à procura da claridade. Os
animais se aconchegam uns aos outros à procura de calor. O ser humano não é
diferente, está sempre à procura do que lhe falta. Amor, carinho, compreensão
para uns, para outros o status, a
posição de comando... Ainda a outros só o dinheiro e tudo aquilo que ele
proporciona e representa, basta! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Naquele
momento, na fase de adaptação na outra sala de aula, eu fazia parte dos seres
humanos desprovidos de afeto! Na minha carência sentia-me sozinha, confusa, cheia de medo! Tudo me era
estranho, nada se parecia com aquilo que sonhara noites a fio na fazenda... via-me no colégio cercada de coleguinhas,
brincando, fazendo traquinagens... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A realidade
era bem outra...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Fui acolhida
na outra sala com atenção, mesmo porque todas as alunas e a professora
presenciaram a minha desventura e ficaram angustiadas. A irmã que agora seria minha professora e as
novas coleguinhas, acolheram-me tão bem que aos poucos fui esquecendo os maus
tratos sofridos e passei a me interessar pela sobrevivência naquele lugar inóspito.
Minha coleguinha Margarida foi a grande responsável pela minha adaptação. Foi
ela quem me orientou quanto aos cuidados pessoais, como manter meus pertences
guardados em ordem, a fazer silêncio sempre que não estivéssemos em recreio...etc.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Com o tempo
passei a receber elogios nas aulas porque tinha desenvoltura para ler e escrever.
Entretanto, quase tudo o que “dominava” estava fora do currículo. Matérias como
geografia e história que eu havia estudado em casa estavam completamente fora
do currículo.Conhecia o Mundo mas não
sabia nada sobre São Paulo. Tive que estudar bastante! A Irmã Sacrário, aquela
adorável criatura, compreendeu que eu só precisava de um empurrãozinho para
conseguir me igualar à turma.
Empenhou-se em me auxiliar nos seus momentos de folga. Margarida ajudava-me nos
deveres de casa, e nos apegamos muito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Aquele ano
letivo transcorreu sem maiores incidentes. Rapidamente alcancei a turma, adaptei-me
ao currículo, transpondo os obstáculos sem maiores incidentes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> Durante todo o semestre, recebi apenas três
visitas dos meus pais. Apesar das saudades, eu compreendia que era difícil a
visita constante da minha família. Morávamos não tão longe, mas o acesso era
difícil. Estrada acidentada de terra batida, uma dificuldade! No período da
chuva era a lama, na seca, a poeira... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">No final de
cada mês as internas que tinham bom comportamento podiam passar o final de semana em casa. Eu só saía
nos feriados maiores tipo Semana Santa. Em compensação nós que ficávamos íamos
brincar na chácara das Irmãs em frente ao colégio. Essa chácara era o lugar de recreio das
freiras onde elas jogavam vôlei ou outro
tipo de competição com bola. Da janela do dormitório podíamos vê-las na maior
“farra” gritando e correndo na maior alegria. Eu gostava de ver... Desfiz o
mito da esposa de Cristo recatada que vivia em oração fazendo tudo muito
certinho! Sentia que elas eram pessoas normais que viviam em reclusão por vontade
própria para servir a Cristo através da doação de si mesmas! Eram pessoas
comuns com algumas virtudes e muitos defeitos, entre os quais o
preconceito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O
tratamento dado às alunas mais abastadas era diferenciado das pobres; nem mesmo entre as ricas se viam negras. Uma única exceção, a
Negô, uma das primeiras alunas, quando o colégio estava iniciando como internato. Não raro acontecia de
convivermos com meninas com problemas mentais graves ou com outras doenças
nervosas como a epilepsia, que exigia de nós muita compreensão e
desenvolvimento do senso de tolerância. Era fácil perceber que as famílias contribuíam
para que essas alunas fossem aceitas e que tivessem um tratamento diferenciado. Eram
todas brancas e abastadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Apesar da
rotina, a cada dia vivíamos a
expectativa de um incidente para movimentar os ânimos, ora uma briga, ora um
ataque nervoso e ainda uma repreensão pública ou castigo. Sempre algo que dava
motivo bastante para comentários e fofocas! Uma experiência de vida que
fortalece e estimula a convivência com as diferenças!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-56472169682978006002012-07-23T07:47:00.001-07:002012-07-23T07:47:16.187-07:00DEPOIS DA TEMPESTADE, A BONANÇA<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aquele longínquo e fatídico dia da minha infância
jamais foi esquecido. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O bullying moral sofrido no primeiro dia de aula na minha recém-chegada
ao internato, a humilhação por descer tão baixo no conceito daquelas pessoas,
baixou a minha autoestima a níveis desprezíveis. Aquela mulher imensa, a quem
atribuíam o título de professora, vestida de amarelo que mais parecia uma manga
madura... aquelas risadas sarcásticas, estridentes... aquele momento de extrema
solidão e nostalgia, causaram-me desarranjo interno, fogueamento no rosto,
bambeza nas pernas... senti que algo dentro de mim pedia urgentemente para ser
posto para fora! Jamais havia passado por situação semelhante! Nunca havia
sentido tamanho desconforto... minha primeira lembrança naquele momento, foi
minha mãe, a quem recorria sempre nas situações
complicadas, mas ela não estava ali... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No momento seguinte, que para mim, pareciam horas, dei-me conta de que estava em outra sala de
aula agora com outra professora, uma irmã, linda, sorridente, carinhosa que
percebendo meu constrangimento levou-me até ao banheiro. Sentei-me no vaso,
desfiz do incômodo e chorei... desabei no choro convulso que me doía o peito! Sentimentos
exacerbados, confusos, experimentei naqueles minutos... raiva, ódio, rancor,
desespero, medo, nostalgia, solidão e... saudades... muitas saudades... vontade
de voltar para casa, para a fazenda para minha vidinha pacata sem ter que me
defender para sobreviver ali naquele lugar horrível!Naquele momento precisava
urgentemente de proteção, carinho... Em segundos percebi que eu tinha que
crescer, resolver meus problemas imediatos, não havia ali ninguém por mim!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Extremamente sofrida e entregue aos meus sentimentos
confusos, despertei para a realidade quando uma voz doce me chama pelo nome. Neste momento parei de chorar, procurei
me recompor, lavei o rosto. Quem me chamava era aquela irmã, a doce Irmã Maria
do Sacrário, a mesma que seria minha professora! Pegou-me pela mão, assentou
comigo em um banco do pátio e conversamos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Mais calma, contei lhe o que havia acontecido na sala ao lado quando fora enxotada porque
não sabia fazer uma continha de dividir por três dígitos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Percebi que ela ficou indignada com atitude
antipedagógica da professora que incitou as alunas no que hoje chamamos
bullying. Depois levou-me para a nova sala, apresentou-me para novas colegas, levou-me até minha carteira onde iria
assentar com outra aluna a Margarida. Grande Margarida!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Desta vez fui muito bem acolhida, minha coleguinha
deu-me algumas instruções de como deveria me comportar no internato, desenvolver o habito da autodefesa , para não
ser passada “para traz.” Dividíamos a merenda, quando tínhamos, nos ajudávamos
nos deveres de casa e nos defendíamos mutuamente das agressões de alunas
maiores cheias de alto conceito de si mesmas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Nesses ambientes de reclusão a carência afetiva se
confunde com o instinto de sobrevivência
gerando atitudes egoístas e violentas. Não raro se verem desentendimentos só
para “marcar território” onde o mais fraco sempre cede para o mais forte,
compreendendo humilhado, a sua real situação. No meu colégio não era
diferente... Havia muita disputa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Atrasei um ano no meu currículo escolar, em compensação
ganhei em conforto moral, ambiente,
acolhimento e satisfação pessoal. Para mim era como se tivesse escapado do
inferno e passado para o céu. Aos poucos fui aprendendo a viver, a me fazer
respeitada sem apelar para violência, ou ignorância. Foram dez anos que apesar
de tudo, valeram a pena!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-25342569715308581192012-07-11T08:31:00.001-07:002012-07-15T16:07:32.975-07:00O BULLYING<br />
<div class="MsoNormal">
<br />
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A lembrança da primeira professora para a maioria das pessoas é
algo que enche o coração de ternura e saudade. Ela é aquela pessoa que preenche
o vazio deixado pela ausência dos cuidados e carinho maternais, é quem assume
com muito amor a tarefa difícil de tornar agradável a adaptação da
criança em seu novo espaço. A experiência de se ver só, fora do ambiente
familiar, com estranhos, em nova realidade é para a criança uma mudança brusca
que desestrutura seu íntimo, sentindo-se abandonada, perdida, desamparada. Essa
criança precisa ter alguém maternal que a acolha, proteja e
sobretudo que a faça sentir-se amada. <o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ao me encaminhar para a sala de aula, a primeira da minha vida,
enchi-me de esperanças. Sonhava encontrar ali o suprimento de toda carinho e
atenção que estava sentindo desde o dia em que chegara ao colégio no internato.
Meu coração estava quase a explodir de alegria a me ver numa sala de aula de
verdade com colegas, professora, os móveis adequados tudo aquilo que já fazia
parte do meu imaginário mas que não conhecia de fato. Toda essa expectativa
durou pouco. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Uma imensa avalanche de decepção caiu sobre mim depois que me
descobriram. Primeiro vieram as perguntas para sanar a curiosidade natural. Eu
de pé na frente sob o olhar atento e crítico das colegas tinha que responder a
muitas perguntas que eu nem sabia do que se tratava. Descobriram então que eu tinha
vindo da roça e que era uma caipira! Tive que suportar os risinhos e cochichos
maldosos... <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Com os nervos à flor da pele, maltratada intimamente, humilhada,
fui submetida a um teste de avaliação, ali sem o menor preparo psicológico! Por
sorte do azar, nada do que eu sabia foi arguido. Todo o conhecimento que eu
tinha adquirido informalmente junto à minha mãe, era insuficiente para me
qualificar.<o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Lembro-me que a professora tinha me dado um giz para que eu
escrevesse no quadro negro uma frase para fazer a análise gramatical. Eu não
conhecia giz não sabia como usa-lo naquele quadro enorme. Não tinha noção
espacial porque só conhecia a louza, um quadro de uso individual onde escrevíamos com
um bastão da mesma pedra sobre o colo ou sobre a mesa. Essa minha
confusão gerou a pergunta: “você ao menos sabe escrever”? (ouvi risinhos
abafados...) Com toda timidez balancei a cabeça em sinal positivo. “Então
escreve!” Eu olhava para o giz, virava-o de um lado, do outro...nada. Eu não
sabia<span class="apple-converted-space"> </span><u>como<span class="apple-converted-space"> </span></u>escrever com aquilo. Até que uma
das colegas entrou para minha salvação: “professora, deixa eu escrever a frase
para ela?” <o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nessa hora senti um tímido apoio, achei que aquela garota me
inspirava confiança e cumplicidade. Entreguei-lhe o giz. Com desenvoltura ela
escreveu no quadro a tal frase. Apesar do nervosismo, segui os seus movimentos,
entendi que o quadro tinha aquelas dimensões para que toda a sala
pudesse ler e as letras deveriam ser proporcionais, pela mesma razão. Agora com
o giz, a professora pediu-me que sublinhasse os verbos, passasse um círculo em
volta dos substantivos um X nos pronomes... e assim por diante... Tudo feito
achei que estava livre... Que nada! Agora veio o pior! <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Mandou que apagasse o quadro e ditou alguns números, dividido
por... quando fiz um traço vertical de uns quarenta centímetros, as colegas
começaram a rir. (A chave que eu sabia fazer era composta de um traço vertical
e um horizontal partindo dos primeiros 10 cm. ). Ditou: dois, sete,
nove. Que maldade! Nunca havia feito uma divisão por três dígitos. Foi quando
vi que a professora queria mesmo era me aniquilar! Vi o seu sorriso de
satisfação e ouvi as gargalhadas das colegas diante da minha
ignorância. <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Nessa hora ela mandou que eu pegasse minhas coisinhas e que saísse
da sala dela, ela não tinha tempo para perder ensinando fazer continhas e que
aquela sala não era para mim... Seu tom de voz estarrecedor meteu-me
medo! Constrangida, esmagada em meus profundos sentimentos, sob o olhar
crítico e debochado das colegas em gargalhadas, me encaminhei para a porta já
aberta. Lá estava ela com o braço
direito e o indicador estirados mostrando-me a saída. A porta ela gritou
para a professora do segundo ano: “essa menina não está apta para o terceiro
ano, vê se fica com ela, aqui ela não fica!”<o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Humilhada, com a autoestima lá em baixo, senti-me a última das
criaturas, precisava que alguém que me apoiasse, consolasse, mas de
quem? Senti-me isolada, estava sozinha... Era motivo de chacota, de
olhares debochados...<o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Experimentei todo o desprezo, humilhação e
solidão que uma garotinha ingênua poderia sentir... Na verdade, só o fato de
ser novata no colégio, não ter amigas e nem apoio, era para mim como se
estivesse num isolamento total... foram os minutos mais longos da minha
vida...eu queria sumir...voltar correndo para os braços de Mamãe...sentir o seu
carinho, sua proteção! </span><o:p></o:p></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Não havia me preparado para uma situação como
aquela! Foi constrangedor! <o:p></o:p></span></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Hoje quando se falam em bullying, reporto a este dia fatídico em
que fui agredida moral e psicologicamente, motivando talvez a grande
dificuldade que sempre carreguei com a matemática.</span><span style="font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<u1:p></u1:p>
<br />
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div style="margin-bottom: .0001pt; margin: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
</div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-47423352906319175412012-06-29T20:45:00.001-07:002012-06-29T20:45:20.023-07:00POBRE MENINA SONHADORA<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Minha vida de estudante propriamente dita começou aos
nove anos de idade, quando segundo a tradição familiar, e por força das
circunstâncias, eu também deveria ir para o colégio dar inicio então à tão
sonhada vida de internato. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Digo “tão sonhada” porque morria de inveja quando meus
irmãos mais velhos comentavam entre si
as peripécias pelas quais passavam quando estavam no colégio. Minhas irmãs,
Teca e Maria I. referiam-se ao internato
com tanta graça que eu achava que deveria
ser o paraíso. Aguardava com ansiedade o momento em que eu também iria passar pelas mesmas oportunidades, movimentar mais a
minha vidinha que eu considerava pacata, na fazenda brincando sozinha,
estudando ou fazendo algumas tarefinhas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Pobre menina sonhadora! A realidade é bem diferente... claro,
eu seria apenas mais uma entre uma centena de outras internas, e nem era a
menor de todas! Não tinha porque ficar esperando que alguém fosse ter atenção
especial comigo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Entre as novatas como eu, duas irmãsinhas de sete e
oito anos, dividiam entre si o consolo e
mitigavam as saudades. Eu, mais uma vez sozinha, agora chorando as saudades!
Saudades da Mamãe, da família, do aconchego do lar, do sabor da comida feita com capricho no fogão à lenha...
o perfume da madeira queimando...Quando amanhecia no dormitório cheio de
meninas, chegava ouvir o cantar dos pássaros nas árvores, o galo no galinheiro
o mugir das vacas e seus bezerrinhos... era o barulho da natureza que eu nem
dava conta de que me agradava tanto...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Os primeiros dias foram inesquecíveis! Tudo novo...
nada era como na minha casa...tudo... tudo diferente! Aquele bando de meninas e
mocinhas, ninguém familiar... olhares hostis, desconfiados. Lembro-me de
procurar alguém com quem dividir meus
anseios e minhas indagações, mas parecia que todas estavam alegres e felizes,
ninguém compartilhava da minha solidão. Muito acanhada, ficava sempre num
cantinho com cara de poucos amigos, pensando como seria a minha vida ali
naquele lugar estranho... de uma coisa eu tinha certeza: eu iria estudar de
verdade, iria ocupar uma carteira, escrever no caderno, desenhar... isso me
trazia ânimo e me enchia de esperança!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Chegou o primeiro dia de aula! A ansiedade tomava conta
de mim... não sabia quem seria a professora, nem quem seriam minhas colegas.
Nessa hora o número de alunas triplicou. No pátio, as alunas reunidas, internas
e externas, todas mais ou menos da mesma idade formavam filas por série. Alguém
chegou e me perguntou: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ Qual é a sua fila? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Respondi: <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ Não sei...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ Você se matriculou em qual série?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ Não sei...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ Que série você fez o ano passado? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">_ Não sei... (A pessoa deve ter pensado que eu era mais
uma doente mental que as irmãs por compaixão recebiam) Aí consegui formular uma
frase mais consistente e disse: minha mãe disse que eu posso fazer o terceiro
ano. Eu não sabia, mas essa frase provocou o meu primeiro vexame de minha vida! Fui então conduzida para a
fila do terceiro ano e junto com as outras alunas, para a sala de aula.
Iniciadas as apresentações, a professora uma senhora corpulenta, vestida de
amarelo, estranha, não tinha cara de professora, pelo menos não a cara que eu
esperava que tivesse. Eu sonhava com uma professora linda, carinhosa e que me
achasse engraçadinha...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O seu visual não me agradou como também não a recepção “calorosa”
que recebi. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Esse dia ficou assinalado na minha infância. Abalou as
minhas expectativas como também a minha vida. Deixou lembranças cruéis que
carrego até hoje do meu primeiro dia de aula no internato.<o:p></o:p></span></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-1255413417191496462012-06-27T12:19:00.001-07:002012-06-27T12:19:13.106-07:00UMA NOVA VIDA<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Aos nove anos comecei realmente a minha vida escolar em
sala de aula comum. Como já disse antes, morávamos na fazenda, onde não havia
escola. Minha mãe foi minha primeira professora. Ela me ensinou a ler, escrever
e fazer algumas continhas, o básico, fez o que pode, como professora leiga, sem
metodologia e recursos didáticos apropriados. Todos nós tivemos o mesmo início,
até completarmos a idade de assumirmos sozinhos a vida em uma escola sob o
regime de internato. Adeus convivência
familiar! Adeus liberdade... era o início de uma nova vida...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">No ambiente escolar, como em todos em que se concentram
pessoas e principalmente crianças e adolescentes, as normas são necessárias para
que se estabeleçam ordem e disciplina. Isto
quando se tratam de estabelecimentos comuns
nos dias atuais. Em um regime de internato, essa exigência é triplicada.
Toda rotina segue uma orientação rígida, metódica, militarista. Fila pra cá,
fila pra lá, nada de conversa, obediência sempre! Até os passeios pela cidade
aos domingos, eram feitos em fila...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Onde quer que estivéssemos, no pátio em recreio, em sala de
aula, ou em sala de estudo, três sinais de campainha nos alertavam que
deveríamos fazer alguma coisa: ao primeiro, parar o que estivesse fazendo; ao
segundo, formar a fila em silêncio absoluto; ao terceiro, seguir para a
atividade própria do horário, em fila...
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A campainha era o sinal de alerta para alguma coisa
conforme o horário: desde o despertar
até a última atividade do dia,
dormir. Uma rotina de deveres, obediência, submissão. Os únicos momentos que podíamos conversar
eram nos intervalos das aulas e no pátio, na hora do recreio. No pátio, era proibido fazer rodinha, isto é,
conversar em grupos. Tínhamos que brincar com bola, corda, bicicleta ou
joguinhos de dama, xadrez, ludo, torre etc. sob a vigilância constante de uma
ou duas irmãs (freiras). A necessidade de burlar a vigilância era
imperiosa dadas as inúmeras
proibições. Tínhamos sinais convencionados de alerta geral
e outros criados pelas “panelinhas” para
quando fosse necessário a comunicação entre os seus membros.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">O bom comportamento era o índice para a saída em visita
à família no primeiro final de semana de cada mês. Cada professor dentro da sala de aula ou irmã
que vigiasse as internas em determinado período, recebia uma planilha com os
nomes das internas onde seriam marcados sinais indicadores de bom ou mau comportamento.
Quem não obtivesse média suficiente não
poderia sair. Permanecia no colégio
estudando ou ajudando na limpeza das salas e áreas comuns. As punições variavam
entre a chamada de atenção (pito) da Madre Superiora, da diretora, da perda da
saída no primeiro domingo, da suspensão do recreio e até expulsão para os casos
gravíssimos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tínhamos quatro meses de férias: dezembro, janeiro,
fevereiro e julho. Isto quer dizer que passávamos dois terços do ano no
colégio. Que fazer para viver com disposição e alegria num ambiente intolerante
e austero como o que nos era imposto? Como suportar a mesma rotina, dia após
dia, com saudades de casa, da liberdade, do aconchego familiar, da fartura da
fazenda, da comidinha da mamãe?!... Quanta saudade! Quantas lágrimas...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Para fugir da monotonia, a saída era criar situações
divertidas cheias vivacidade em que, sem nos comprometer, aprontávamos lances espirituosos sem jamais deixarmos
pistas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-82813253198515143642012-06-26T05:01:00.001-07:002012-06-28T06:05:34.855-07:00FAZ DE CONTA QUE...<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Faço parte
de uma geração de transição. A geração da mudança que começou a perceber a
necessidade de transformação carregando
os carismas positivos de uma educação tradicional mesclando-os com os
imperativos da modernidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando me lembro
da minha vida de criança, na fazenda onde o maior contato com o mundo exterior
era um radio à pilha e os jornais, comparo-a com as das crianças atuais. A
criançada moderna, meninas de cinco a
dez anos, não compreenderiam o quanto
agradável é brincar só, como eu brinquei. Não saberiam brincar de “faz
de conta”, usar a criatividade, a fantasia, não se envolveriam em situações imaginárias a
ponto de viver uma situação irreal.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Não tendo
com quem dividir meus devaneios, tirava proveito do que tinha: das árvores, das
bonecas, as bruxinhas de pano que eu mesma fazia.</span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Subia nas árvores e passava a
viver uma fantasia novelesca em que </span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"> </span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">algumas coleguinhas brincavam comigo. O cenário
era sempre o mesmo, mas o enredo variava a cada dia. Amiguinhas imaginárias
faziam parte desse mundo... Todas</span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"> </span><span style="background-color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">eram
“comadres” , tinham nome, casas, famílias, filhos pequenos.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Ali eu
passava horas brincando de casinha visitando as “amigas” em suas casas, apenas passando
de um galho para o outro. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Raramente
eu tinha alguém de verdade brincando comigo. Isso só acontecia quando minha
irmã casada Ester, ia passar uns dias conosco. Sua filha mais velha Milene,
quase da minha idade, me trazia um novo estado de fantasia. Então eu aproveitava
e deixava de lado o meu faz de conta solitário, para brincar também de faz de
conta com crianças de verdade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> As nossas casinhas ora em cima, ora em baixo das árvores, tinham
um “que” de um realismo. A mangueira era
a que melhor favorecia com sua sombra e galhos fortes. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Aí
soltávamos a imaginação! Construíamos, mobiliávamos e decorávamos com pecinhas encontradas no
quintal ou na nossa imaginação. Fazíamos a divisão dos cômodos, a colocação dos
móveis, tudo na mente, até as portas, as janelas tinham seu lugar exato. “Faz
de conta que aqui é minha casa, aqui, o quarto... aqui a cozinha... ali a porta
de entrada... minha porta tem campainha, não bater palma, por favor! A Milene
era extremamente rigorosa nesse aspecto. Se eu fosse à casa dela, tinha que
apertar a campainha no local demarcado para a porta: “dliiim-dlom”...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"> A visita era recebida com requinte,
conversávamos sobre problemas familiares, fazíamos fofoca, servíamos cafezinho,
biscoitos, etc. Tínhamos criatividade para vivermos outros personagens também,
artistas, cantoras... só que eu não conhecia bem essa gente, gostava mesmo era
do papel de comadre. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">As crianças,
uma mais sapeca que a outra,tiravam
nosso sossego... Passávamos o tempo corrigindo os pestinhas e brigando com as empregadas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando
inventávamos de fazer cozinhadinha ou comidinha, tínhamos que buscar recursos
na cozinha com minha irmã Teca que era mais “boazinha,” satisfazia sempre a
nossa vontade sem reclamar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Fazíamos
fogão com pedras e tijolos espalhados pelo quintal. Recolhíamos gravetos
e palha e sabugo de milho seco. Tudo para
acender o fogo! Essa era a pior hora! Não conhecíamos a técnica...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Risca
fósforo, assopra, uma labaredazinha que não se sustenta, logo se apaga! A
fumaça que entra nos olhos... Pára tudo para enxugar as lágrimas! Que peleja...
Quando por fim conseguíamos acender o fogo já estávamos cansadas, e a fome
gritando para pedirmos socorro na cozinha.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Quando algum adulto acendia o fogo para nós,
conseguíamos fazer a nossa comidinha. Que prazer! O arroz, ora papa, ora cru,
mesmo assim era delicioso!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-43381526148606021822012-06-21T16:49:00.002-07:002012-06-21T16:49:39.486-07:00O RATINHO EXPLORADOR<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">As nossas
relações familiares eram pautadas no respeito. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O respeito
é algo pessoal, nasce com a criatura como uma herança adquirida. Pode ser
expresso por gestos, palavras e atitudes. Beijar as mãos dos pais, avós, tios,
padrinhos até dos irmãos mais velhos enquanto se pedem a bênção, é sinal de
respeito! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Uma
tradição que ficou esquecida! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Outra
expressão de respeito que ficou para trás é tirar o chapéu enquanto se
cumprimenta alguém. Hoje nem se usam chapéus.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O respeito
era de tal forma imposto, que não havia outro sentimento que o suplantasse. Era
o termo que melhor descrevia as ligações interpessoais entre cônjuges, pais e filhos, entre irmãos,
tios, avós, superiores... Todos deviam
respeito, principalmente as mulheres e as crianças.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Imagine, para
a mente de uma criança, que vê o mundo de baixo, na sua estatura. Ele (o
respeito) tem a mesma proporção física do adulto. Ela o olha (de baixo para cima) “vê” a dimensão do
respeito que o outro representa! A
estatura desse esse sujeito representa o distanciamento entre ela e o outro, o
tamanho do respeito... <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Seria a
situação da criança que só convivesse entre adultos ou que fosse a menor entre
os familiares devendo consideração e respeito a todos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Era o meu
caso... Eu devia obediência até ao Quincas, dois anos mais velho. Obediência
nesse caso equivale a respeito, palavra que abafa todos os outros sentimentos,
isto é, se sobrepõe a outros mais doces, mais verdadeiros e universais como o
amor! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O amor, que
é o sentimento maior que dá origem a tantas outras manifestações de empatia se
perde sob o peso do <u>respeito.</u> Assim sendo, todas as expressões que o
revelam como o carinho, a ternura, o afago, o beijo são por demais “leves” para
se valerem diante do respeito. São escondidas, inarticuladas, camufladas! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Amor? Só o
próprio! O mesmo que leva ao orgulho e à vaidade!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Para uma família
tradicionalmente machista, esta é a norma. Jamais se permitiram manifestações
que ultrapassassem as barreiras do respeito. Um outro sentimento também era
permitido, até aos homens, a <u>devoção</u>. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Toda essa
introdução sobre sentimentos é uma justificativa para o episódio que vou contar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Como já
revelei em outros contos, sou a menor de uma irmandade de nove irmãos entre os
vivos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Morávamos
na fazenda onde nasci e vivi meus
primeiros vinte anos. Enquanto criança convivi
com cinco irmãos, os outros três mais velhos já haviam saído de casa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A família,
tradicionalmente católica, implantou o culto diário no lar com a reza do terço
todas as noites antes do último lanche.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Cada um
escolhia seu lugar de preferência onde se ajoelhar sempre em volta da mesa na
sala de jantar. Meus irmãos Rubens e Quincas tinham seus lugares bem na frente,
do lado da cômoda sobre a qual ficava o oratório com as imagens. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Para toda
criança, a contravenção é um prazer e não era diferente para os filhos desse tradicional casal de
mineiros. Como papai era o único que
permanecia de pé nessa hora, ficava fácil para ele manter o controle e garantir
o <u>respeito</u> pelo momento sagrado. Os dois pestinhas ainda achavam jeito
de ludibriar a vigilância e em vez de rezarem conversavam entre si usando a
fresta entre a cômoda e a parede como canal de comunicação. Eles curtiam a
conversinha até papai limpar a garganta a primeira vez, a segunda, na terceira,
papai saia do seu lugar e com a mão fechada dava um cocorote em um e depois no
outro. Ao terminar a reza os dois permaneciam ajoelhados rezando enquanto os
outros iam tomar um lanche para ir dormir.
<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Uma outra
passagem engraçada ocorreu também enquanto rezávamos o terço. Estávamos todos
contritos, cada qual com seu terço na mão, Ave Maria... Santa Maria...repetidas
vezes, quando papai de pé encostado na mesa, começa a movimentar a perna, estranhamente para alguém
fleumático como ele. Com moderação nos movimentos para não perturbar o momento
de devoção, foi com a mão até a curva da perna apertou algo que trouxe para
cima até as nádegas e ficou ali segurando até o final da oração. Estávamos por
entender aquela ação estranha do meu pai. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Quando a
oração terminou, estávamos todos
curiosos para saber o que havia acontecido. Papai então, chamou meu irmão para ajudá-lo a desenvencilhar do problema disse:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> – Vem cá João, me ajuda aqui, com cuidado, se
não ele escapa!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Todo mundo
ficou intrigado com o que estava acontecendo... risinhos abafados!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O João
então obedecendo, enfiou a mão sem saber do que se tratava... Nesse momento
ouvimos um chiado e todos nós compreendemos o que se tratava! Era um ratinho
perdido que teve a desgraça de achar que a perna do meu pai era caminho para
suas investigações exploradoras.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Nem preciso
dizer o quanto rimos, abafadamente e <b>com
respeito</b> do acontecido! <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-35062769043551015242012-06-19T04:53:00.002-07:002012-06-19T04:53:09.325-07:00MINHA MÃE, MEU EXEMPLO<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Quando
nasci minha mãe já contava com 42 anos. Já era possuidora de uma vasta
experiência de vida, de esposa e mãe, pois já colocara no mundo os meus onze
irmãos. Casou-se aos 16 anos e começou a ter filhos. Saiu da casa dos pais onde
tinha quem fizesse os trabalhos domésticos e era tratada com muito zelo pela
ex-escrava Sá Cândia, para uma vida de responsabilidades e trabalho na fazenda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Passou por
experiências dolorosas com a doença de meu pai na época em que ele saiu de casa
para se tratar, ficando sozinha com a administração da fazenda, da família ainda
crianças e adolescentes.<span style="color: red;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O
sofrimento torna as pessoas mais maduras, sensatas e decididas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Aprendeu
muito com a vida, “na raça”, sem demonstrar fraqueza nem temor às adversidades
que lhe estavam sendo impostas. Sua coragem e exemplo de fé é motivo de orgulho
e motivação para todos nós seus filhos. As dificuldades pelas quais passou em
sua vida fizeram-na uma mulher forte, corajosa, e determinada. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Mantinha
atitude submissa como era próprio das esposas na primeira metade do século 20 e
até bem pouco tempo. Havia, porém momentos em que exibia sua personalidade
e sua vontade prevalecia diante das
imposições de meu pai. Muitas vezes era sua a última palavra. Conhecedora da
personalidade do meu pai, sabia quando fazer a interferência, o momento certo
de falar pra ser ouvida. Sofria com o jeito duro de ser do meu pai com a sua
intransigência, porém nunca a vi chorar ou se lamentar, muito menos replicar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Mamãe era a
conciliadora em todos os momentos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Com os
filhos encontrava continuamente um pretexto para relevar as atitudes
egocêntricas e autoritárias do meu pai.
Uma palavra apaziguadora era o bastante para justificar a conduta dele. Já com
ele sua tática era outra em defesa dos filhos. Mesmo que estivessem errados,
como para abrandar um pouco a situação, encontrava saída para amortizar a falta.
Só que ela não deixava passar em branco, não alisava, com um jeito que só ela
tinha de entender as pessoas, corrigia como verdadeiramente precisava.
Repreensões e castigos... Nada de rebeldia porque não surtia efeito. O castigo
durava até a hora determinada. Eu
imagino o quanto ela sofria quando tinha que impor um corretivo mais forte! Sua
vontade talvez fosse agir com mais brandura, mas sabia por intuição talvez, das
consequências para a educação daquele ser em formação. E não deu outra!Todos
nós somos no mínimo pessoas honradas, descentes!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Não havia
cursado nenhuma escola formal, mas entendia o ser humano como ninguém. Sabia
agir no momento certo com o corretivo adequado. Mamãe era uma sábia!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Teve, como
papai, o privilégio de “nascer bem” isto é, ter uma família de recursos que
mantinha um professor para “educar” toda a prole em casa. Os colégios eram
escassos, distante e difícil acesso. Mais pratico era conseguir alguém com bom
conhecimento geral que desse aulas para
todos os filhos, morasse com a família e ainda tivesse um salário livre. Não
era difícil encontrar uma pessoa com essa disponibilidade, porem dentro dos
critérios estabelecidos pela tradição familiar. A pessoa tinha que ser católica
praticante e seus princípios pautados nos ensinos e práticas religiosas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Mamãe foi
uma das pessoas que mais marcaram a minha personalidade. Não saberia falar de
mim sem sentir os reflexos dos seus ensinamentos, do seu exemplo, da sua
influência na minha maneira de ser. Às vezes me pego repetindo suas falas, seu
modo de fazer as coisas, recordando: “como é mesmo que mamãe fazia isso?” <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-84921054889674200922012-06-17T15:13:00.002-07:002012-06-17T15:13:27.647-07:00MEU PAI, UMA PESSOA ADMIRÁVEL<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">A imagem que
tenho, enquanto criança, de meu pai, era de uma pessoa de idade. O fato de eu
ter sido a ultima de uma prole grande foi peremptório para que em minha mente
ressaltasse o conceito de uma pessoa bem idosa, sempre tratada com muito
respeito e cuidados para que não fosse contrariado de modo algum, até nos
mínimos detalhes. O que eu não sabia ainda, era que ele se resguardava porque
era doente, havia sofrido tuberculose. Isso deixava minha mãe e meus irmãos em
pé de alerta a qualquer manifestação de gripe ou resfriado. O tratamento pra
vida inteira, era seguido à risca. Mesmo assim teve várias recaídas. Por isso
era tratado com tanta deferência. Era muito nervoso e autoritário, qualquer
manifestação sua era uma ordem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Ninguém se
assentava à mesa ou se servia antes dele; os melhores pedaços eram separados
para ele. Tomávamos as refeições em silêncio, porque se ele não comandasse a
conversa, ninguém mais tinha o direito de se manifestar a não ser para
responder às suas perguntas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Era
obedecido, reverenciado, temido, mas...não conseguiu se fazer compreendido e amado por mim enquanto pequena. Não que fosse desprovido da
capacidade de um sentimento maior. Ele amava sua família, adorava a mamãe, mas
do seu jeito ranzinza e autoritário de ser, sem fazer demonstrações. Sim porque
com esse temperamento irascível, somado a uma severa educação, só podia surgir um
ser durão, travado na manifestação dos sentimentos... Demonstrações de afeto, de carinho eram
atitudes piegas. Raramente me lembro de assentar em seu colo, mas eu gostava
que ele descascasse uma fruta para mim, era a maneira como eu encontrava para
me aproximar dele. Era também o máximo que eu conseguia fazer. Precisava
observar se o sinal estava verde para avançar. Nesse aspecto foi assim a vida
toda. Quando ele estava de bom humor, o
máximo carinho que ele conseguia expressar era dizer: “minha filha que é
bilha!” acho que a palavra “bilha” era usada só pra fazer rima, mas eu ficava
feliz porque interpretava como carinho, ou bom humor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Passava
muito bem a imagem forte de quem protege, provê, administra, e comanda. Às
vezes, enquanto calmo, usava a didática do convencimento, pedia opinião, mas só
para ver o pensamento do outro. Já tinha a sua formada, e isto bastava. Não
admitia réplica, a sua opinião era a que prevalecia. A única pessoa que
raramente ouvia e acatava fora mamãe, era meu irmão João. Esse era diplomata!
Sabia levar a “fera” com jeito. Conversa vai, conversa vem, quantas vezes vi
papai ceder depois de muito rodeio, como se tivesse apurando o pensamento, numa
discussão acadêmica. Meu cunhado Julhinho também tinha um relacionamento,
digamos amigável com ele. Fora essas ocasiões, a imposição era o método
empregado. Não admitia erros. Se não alcançasse êxito, a falha era sempre de que executava a tarefa. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Havia um
momento muito importante nas nossas vidas em que nas noites mais quentes nos
reuníamos no alpendre. Papai não dizia, mas hoje eu reconheço o prazer que
sentia e intimamente agradecia a companhia quando espontânea de qualquer um dos
filhos que fosse ali bater um papinho com ele, principalmente os meninos. Ali
era seu lugar preferido onde passava quase o dia todo lavrando pauzinhos ou
lendo jornais. Era quando passava com os
meninos as tarefas do dia seguinte, relembrava casos da família, pessoas que eu
não conhecia, mas pude guardar alguns nomes; às vezes fazia comentários das
notícias dos jornais que assinava. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Meu pai era
uma pessoa bem informada, politizada, estava sempre por dentro dos principais
assuntos do momento. Nas noites mais frias essa reunião era feita na cozinha em
volta de uma lata aberta como assadeira cheia de brasa. Assentávamos em volta
para nos aquecer e ouvi-lo. Detestava conversas paralelas enquanto estivesse
falando. Ambos, ele e mamãe faziam questão que estivéssemos todos juntos nessa
hora. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Apesar
dessa ranzinzisse, e de ser o responsável pelo meu caráter submisso, guardo com
saudade a lembrança de meu pai; a minha
infância e tudo o que me relaciona com ela inclusive e principalmente a
educação severa que nos tornou a todos,
seus filhos,pessoas de bem. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div><div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1133915050154576796.post-8584933323826209472012-06-13T12:48:00.001-07:002013-11-27T05:53:23.383-08:00A ROTINA NA FAZENDA<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O dia pegava
cedo na fazenda! Quando o sol despontava lá no horizonte a lida já andava alta.
A vida ali começava a adquirir movimento com canto dos galos, da passarada, o
mugido das vacas e bezerros! Quem tivesse que trabalhar não podia esperar o sol
nascer. Punha-se fora da cama ao
primeiro chamado do papai. Primeiro ele raspava a garganta. Para um bom
entendedor, meio rã-c-rãããã já basta. Quem primeiro ouvia o barulhinho
característico, éramos nós as meninas (como meus pais nos chamavam) que
dormíamos em quarto contíguo ao de meus pais cuja entrada se fazia pelo quarto
deles. Uma das meninas se levantava rapidamente, passava pelo quarto dos
meninos, os chamava, passava pelo banheiro e ia cuidar do café que seria servido
para papai e mamãe na cama. Quando os outros se levantavam, a mesa estava posta
com as quitandas feitas em casa e leite fresco recém saído do úbere da vaca. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span>
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyWVc8dIXlsbQ0oD5ij0t8-vUO6SgF8SwUs1g0UJBuNBuvA_CcJUVvGLwgnnMNDAjcrZgL7xMGIfUtMSgYfLLmSeRdVnznK2H6P_2dIt-1gnE1_neT2jF64xzocbzzlNt6sBHmz30pqHU/s1600/boiada+e+cavaleiro.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="256" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgyWVc8dIXlsbQ0oD5ij0t8-vUO6SgF8SwUs1g0UJBuNBuvA_CcJUVvGLwgnnMNDAjcrZgL7xMGIfUtMSgYfLLmSeRdVnznK2H6P_2dIt-1gnE1_neT2jF64xzocbzzlNt6sBHmz30pqHU/s320/boiada+e+cavaleiro.jpg" width="320" /></a><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Cada um
tinha sua tarefa especifica. Uma rotina diária de provocar tédio em qualquer
cidadão urbanóide que se aventurasse passar ali uns tempos. Enquanto um cuidava das vacas pra tirar o
leite, o outro ia cuidar dos porcos. Vez por outra, tinha uma vaca recém parida
que exigia maiores cuidados.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Se houvesse
um trabalho extra pra fazer, geralmente era determinado na véspera pelo papai. Ora correr
(visitar) os pastos, ora supervisionar o trabalho dos colonos nas lavouras e
ainda concertar cercas, pontes, mata-burros e outros serviços considerados da
ala masculina da família. Os meninos trabalhavam pesado... Começavam quando
amanhecia e só paravam para as refeições e à tarde quando terminassem todo o
serviço do dia.</span><br />
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span>
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"> As tarefas eram bem definidas. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">O serviço
de casa cabia às meninas. Minhas irmãs Tereza e Maria Inez se incumbiam das
refeições, da roupa, da arrumação da casa, dos doces e bolos. Elas trocavam as
semanas. Uma cuidava da cozinha enquanto a outra se incumbia do restante do
serviço feminino. Assim parecia justo. Cada semana era uma que tinha que pular
da cama mais cedo para acender o fogo e passar aquele cafezinho cheiroso! Não era
difícil acender o fogo no fogão a lenha, pois sempre tinha uma tora queimando à noite toda para cozinhar o feijão. </span><br />
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHT21hACztxLRFcva1MnVSn08MoJ4RcslPj-A0m4yUejrUqmMlU2cNCL3-Mv0Nx0fR4MOG3Gy9KGe_qyYSNnr8zG8yLa_kTzh5_abidMIVxMKx7Ycuw8t3Zo8KdJkTTi4d4BRXe9BEbtk/s1600/fog%C3%A3o+%C3%A0+lenha.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhHT21hACztxLRFcva1MnVSn08MoJ4RcslPj-A0m4yUejrUqmMlU2cNCL3-Mv0Nx0fR4MOG3Gy9KGe_qyYSNnr8zG8yLa_kTzh5_abidMIVxMKx7Ycuw8t3Zo8KdJkTTi4d4BRXe9BEbtk/s320/fog%C3%A3o+%C3%A0+lenha.jpg" width="239" /></a></div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Logo o cheirinho do café chegava até minhas
narinas, então eu que não tinha que “pegar no batente,” virava pro canto e
dormia até que me chamassem. Barulho algum me acordava... Que soninho bom!
Nesse tempo eu ainda era ainda criança, não entrava nessa divisão de tarefas,
mas era chamada toda hora para ajudar alguém, até lá fora nos afazeres
masculinos. Meus irmãos Rui e Quito um pouco mais velhos que eu faziam serviços mais leves enquanto Jonas que já
beirava os 20 anos cuidava das obrigações de maior relevância.</span><br />
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Quando
todas as tarefas estavam cumpridas, as meninas se reuniam com a mamãe no quarto
de costura para fazer pequenos concertos, bordados ou passar roupa. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Mamãe tinha
uma meta de fazer uma colcha de retalhos para cada um dos filhos. Era nesse
espaço de tempo, entre as refeições, que acontecia um dos momentos de maior
importância para nossa formação moral e religiosa. Mamãe contava histórias,
falava dos livros que lia fazia comentários das notícias sempre com uma
conotação moral. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">Esse foi um
tempo em que eu, caçula dessa família, convivi com meus queridos irmãos e irmãs. Como éramos nove
filhos vivos, acima de Jonas, ainda tinha Esmeralda, José e Mário, casados, com
os quais não tive convivência diária porque moravam fora da fazenda. </span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"></span></div>
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><o:p></o:p></span></div>
</div>
<div class="blogger-post-footer">Histórias de uma vida</div>Agathahttp://www.blogger.com/profile/09027784719522579138noreply@blogger.com1