Meu estado geral estava cada vez mais debilitado, ao
contrário do que se esperava. Começava sentir dores que foram se acentuando até
que uma noite, comecei a gemer e chorar, não conseguia dormir... Minhas irmãs
que dormiam no mesmo quarto que eu, chamaram a mamãe. Sem saber o que fazer, na
tentativa de aliviar a minha dor, puseram-me
numa bacia com água quente, deram-me analgésicos, fizeram compressas, chás... nada resolvia!
Começaram então os preparativos para o retorno ao
hospital.
Naquele momento, no estado em que me encontrava de fraqueza
e dores intensas, buscava refúgio no carinho e atenção de minha irmã Teca, minha madrinha de Crisma, a quem eu
chamava de Midinha. Minha irmãzinha
querida que já partiu para outro plano, se desdobrava em atenções procurando me
dar conforto com seu carinho, cobrindo toda minha carência afetiva do momento! Quem
já passou por uma dor física muito
grande, um sofrimento intenso, entende o valor do aconchego amoroso, dos cuidados,
da atenção! Não alivia a dor, porem conforta, protege, ampara! Era o que eu
mais precisava no momento!
Considerando as dificuldades que eu bem conhecia, o
meio de locomoção, a distancia de mais
ou menos 60 km de estrada de terra péssima,
eu sabia que o pior estava por vir; a viagem seria um deus-nos-acuda. Os buracos
e empecilhos naturais de uma estrada de chão, não permitiriam uma marcha mais
acelerada. Sabia que apesar de toda boa vontade dos meus familiares, todo
desejo de me proporcionarem conforto, aquela seria uma experiência dolorosa na
minha vida.
De madrugada ainda, prepararam um jeitinho no jeep onde
eu pudesse viajar deitada para que eu
tivesse mais conforto e não sentisse tanta dor. Saímos. Mamãe como sempre, rezando, me confortando
e chamando a atenção do papai para que tivesse paciência comigo...
Meu maior desejo era ficar livre daquele incômodo o
mais rápido possível, por isso, procurava me controlar, manter-me em equilíbrio
sem gritar, embora essa fosse a minha vontade. Deveria me manter firme sem
reclamar porque assim fui educada, não deveria dar motivos para que papai
ficasse nervoso. Que viagem longa! Era uma situação em que a cada buraco da
estrada a trepidação mexia com minhas vísceras e a minha impressão era de que meu
abdome ia estourar tal tensão que havia. Eu ainda encontrava energia para
segurar a barriga na esperança de encontrar meios de sofrer menos. Mudava constantemente
de posição, chorava, me mordia, mas, nada trazia alívio. Até que enfim
chegamos. Uma maca veio para me levar para a emergência onde fui examinada. O médico,
o mesmo que fez a cirurgia, veio querendo apalpar minha barriga. É claro que
não deixei! Ninguém podia me tocar! Daí para
frente não presenciei mais nada. Deram-me sedativos que me apagaram, mas eu me
lembro que continuava sentir dor.
Quando acordei estava no quarto, deitada do lado direito, sentindo um
desconforto como se tivesse feito as necessidades na cama, com uma poça de um líquido amarelado, com mau
cheiro do lado dos meu quadris. Sem compreender o que estava se passando chamei
a mamãe apavorada para me explicar o que era aquilo. Ela disse:
_ É pus, minha filha! Está saindo da sua barriga...
Naquele momento senti uma vertigem, a vista escureceu,
se não estivesse deitada teria caído!
Mamãe me contou
então, que havia sido operada de novo e que ao toque do bisturi na cissura, o
pus que estava represado no meu abdome ao se ver livre, espirrou com tanta
força que alcançou as pessoas que estavam à minha volta, médicos e enfermeiras até
as paredes da sala de cirurgia.
Soube mais tarde que a infecção tinha se formado entre
as duas películas do peritônio, para minha sorte, se não, eu jamais poderia
estar aqui contando essa minha experiência.