Para melhor
compreensão dos fatos é recomendável ler o episódio anterior, A passagem assombrada (I). O texto foi desmembrado em respeito ao
amigo leitor que preza seu tempo.
Na fila dupla eu ocupava mais ou menos a quarta
posição. Era formada pelas alunas mais
altas à frente seguidas pelas de menor estatura. Isto não quer dizer que quem
ocupava os primeiros lugares conduzindo a
fila, eram necessariamente as mais ajuizadas e equilibradas e sim as mais altas.
Talvez por isso mesmo o que passava em pernas, faltava em juízo.
Eu era uma daquelas que tinham voltado de uma soneca na
capela, logo, estava um tanto desligada da realidade tentando me manter acordada. Encostada na parede do
corredor, enquanto se abriam as portas, fechei os olhos. Naquele fatal piscar,
um pouco mais prolongado em que tive os neurônios desligados por uma fração de
segundo, ouvi alguém gritando - um homem! Um homem! Isto significava que havia ali um
malfeitor! A primeira reação seria a de nos proteger, fugir, buscar um esconderijo! Imagine cem meninas envolvidas pelo mesmo sentimento de pavor, buscando
refúgio, sentindo-se perdidas, desorientadas, sem proteção e ainda sem saber de
fato o que estava acontecendo.
Todas gritando histericamente, fizeram a meia volta
correndo e se atropelando. Havia meninas espalhadas por todo canto, aquelas que
conseguiram chegar a algum lugar. Outras, as atropeladas, ficaram pisoteadas no chão, feridas, em estado lastimável.
O pânico espalhado levou até à clausura (local reservado às irmãs) algumas meninas movidas pelo desespero provocando um reboliço,
porque ninguém entendia nada... Todos queriam saber o que estava acontecendo, mas
ninguém conhecia o motivo daquele desespero...
O gabinete da Madre Superiora ficava quase em frente
onde eu estava. Era um local onde só entravam as pessoas convidadas por ela. Pensei: este é um bom lugar onde me esconder.
Mão no trinco, a porta estava aberta, entrei. O escuro do interior impediu-me
de ver se havia alguém naquele recinto. Na verdade não estava preocupada com
isso. Achava que estava sendo esperta buscando melhor refúgio, quando dei de
cara com alguém. Agora com a visão mais adaptada à penumbra, vi uma velha,
cabelos brancos e longos, camisola branca... na minha cabeça de adolescente,
era uma bruxa! O que eu fiz? Voltei a gritar apavorada, rumo à porta, saí para
o corredor gritando e correndo sem direção,desesperada!
Aos poucos os ânimos foram se acalmando! Nessa noite
não fomos para a sala de estudos. Depois desse tumulto as irmãs nos conduziram
ao dormitório e nos ofereceram calmantes.
No dia seguinte já mais calmas fomos rememorar o
acontecido. Cada uma tinha uma história para contar. A grandalhona que abriu a
porta e que “viu o homem”, vira sim a roupa de um dos trabalhadores da obra que
estava pendurada em uma das escoras da laje...
Muitas garotas foram atendidas na enfermaria para
curativos, outras foram para um banho extra porque haviam soltado seus esfíncteres...
e eu, bem... fiz uma revelação: vira a Madre Superiora em trajes íntimos
enxugando os cabelos, porém não contei que a confundira com uma bruxa e que saíra
dali apavorada de medo!