terça-feira, 19 de junho de 2012

MINHA MÃE, MEU EXEMPLO


Quando nasci minha mãe já contava com 42 anos. Já era possuidora de uma vasta experiência de vida, de esposa e mãe, pois já colocara no mundo os meus onze irmãos. Casou-se aos 16 anos e começou a ter filhos. Saiu da casa dos pais onde tinha quem fizesse os trabalhos domésticos e era tratada com muito zelo pela ex-escrava Sá Cândia, para uma vida de responsabilidades e trabalho na fazenda.
Passou por experiências dolorosas com a doença de meu pai na época em que ele saiu de casa para se tratar, ficando sozinha com a administração da fazenda, da família ainda crianças e adolescentes.
O sofrimento torna as pessoas mais maduras, sensatas e decididas. 
Aprendeu muito com a vida, “na raça”, sem demonstrar fraqueza nem temor às adversidades que lhe estavam sendo impostas. Sua coragem e exemplo de fé é motivo de orgulho e motivação para todos nós seus filhos. As dificuldades pelas quais passou em sua vida fizeram-na uma mulher forte, corajosa, e determinada.
Mantinha atitude submissa como era próprio das esposas na primeira metade do século 20 e até bem pouco tempo. Havia, porém momentos em que exibia sua personalidade e  sua vontade prevalecia diante das imposições de meu pai. Muitas vezes era sua a última palavra. Conhecedora da personalidade do meu pai, sabia quando fazer a interferência, o momento certo de falar pra ser ouvida. Sofria com o jeito duro de ser do meu pai com a sua intransigência, porém nunca a vi chorar ou se lamentar, muito menos replicar.
Mamãe era a conciliadora em todos os momentos.
Com os filhos encontrava continuamente um pretexto para relevar as atitudes egocêntricas  e autoritárias do meu pai. Uma palavra apaziguadora era o bastante para justificar a conduta dele. Já com ele sua tática era outra em defesa dos filhos. Mesmo que estivessem errados, como para abrandar um pouco a situação, encontrava saída para amortizar a falta. Só que ela não deixava passar em branco, não alisava, com um jeito que só ela tinha de entender as pessoas, corrigia como verdadeiramente precisava. Repreensões e castigos... Nada de rebeldia porque não surtia efeito. O castigo durava até a hora determinada.  Eu imagino o quanto ela sofria quando tinha que impor um corretivo mais forte! Sua vontade talvez fosse agir com mais brandura, mas sabia por intuição talvez, das consequências para a educação daquele ser em formação. E não deu outra!Todos nós somos no mínimo pessoas honradas, descentes!
Não havia cursado nenhuma escola formal, mas entendia o ser humano como ninguém. Sabia agir no momento certo com o corretivo adequado. Mamãe era uma sábia!
Teve, como papai, o privilégio de “nascer bem” isto é, ter uma família de recursos que mantinha um professor para “educar” toda a prole em casa. Os colégios eram escassos, distante e difícil acesso. Mais pratico era conseguir alguém com bom conhecimento geral  que desse aulas para todos os filhos, morasse com a família e ainda tivesse um salário livre. Não era difícil encontrar uma pessoa com essa disponibilidade, porem dentro dos critérios estabelecidos pela tradição familiar. A pessoa tinha que ser católica praticante e seus princípios pautados nos ensinos e práticas religiosas.
Mamãe foi uma das pessoas que mais marcaram a minha personalidade. Não saberia falar de mim sem sentir os reflexos dos seus ensinamentos, do seu exemplo, da sua influência na minha maneira de ser. Às vezes me pego repetindo suas falas, seu modo de fazer as coisas, recordando: “como é mesmo que mamãe fazia isso?”


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