Quando
nasci minha mãe já contava com 42 anos. Já era possuidora de uma vasta
experiência de vida, de esposa e mãe, pois já colocara no mundo os meus onze
irmãos. Casou-se aos 16 anos e começou a ter filhos. Saiu da casa dos pais onde
tinha quem fizesse os trabalhos domésticos e era tratada com muito zelo pela
ex-escrava Sá Cândia, para uma vida de responsabilidades e trabalho na fazenda.
Passou por
experiências dolorosas com a doença de meu pai na época em que ele saiu de casa
para se tratar, ficando sozinha com a administração da fazenda, da família ainda
crianças e adolescentes.
O
sofrimento torna as pessoas mais maduras, sensatas e decididas.
Aprendeu
muito com a vida, “na raça”, sem demonstrar fraqueza nem temor às adversidades
que lhe estavam sendo impostas. Sua coragem e exemplo de fé é motivo de orgulho
e motivação para todos nós seus filhos. As dificuldades pelas quais passou em
sua vida fizeram-na uma mulher forte, corajosa, e determinada.
Mantinha
atitude submissa como era próprio das esposas na primeira metade do século 20 e
até bem pouco tempo. Havia, porém momentos em que exibia sua personalidade
e sua vontade prevalecia diante das
imposições de meu pai. Muitas vezes era sua a última palavra. Conhecedora da
personalidade do meu pai, sabia quando fazer a interferência, o momento certo
de falar pra ser ouvida. Sofria com o jeito duro de ser do meu pai com a sua
intransigência, porém nunca a vi chorar ou se lamentar, muito menos replicar.
Mamãe era a
conciliadora em todos os momentos.
Com os
filhos encontrava continuamente um pretexto para relevar as atitudes
egocêntricas e autoritárias do meu pai.
Uma palavra apaziguadora era o bastante para justificar a conduta dele. Já com
ele sua tática era outra em defesa dos filhos. Mesmo que estivessem errados,
como para abrandar um pouco a situação, encontrava saída para amortizar a falta.
Só que ela não deixava passar em branco, não alisava, com um jeito que só ela
tinha de entender as pessoas, corrigia como verdadeiramente precisava.
Repreensões e castigos... Nada de rebeldia porque não surtia efeito. O castigo
durava até a hora determinada. Eu
imagino o quanto ela sofria quando tinha que impor um corretivo mais forte! Sua
vontade talvez fosse agir com mais brandura, mas sabia por intuição talvez, das
consequências para a educação daquele ser em formação. E não deu outra!Todos
nós somos no mínimo pessoas honradas, descentes!
Não havia
cursado nenhuma escola formal, mas entendia o ser humano como ninguém. Sabia
agir no momento certo com o corretivo adequado. Mamãe era uma sábia!
Teve, como
papai, o privilégio de “nascer bem” isto é, ter uma família de recursos que
mantinha um professor para “educar” toda a prole em casa. Os colégios eram
escassos, distante e difícil acesso. Mais pratico era conseguir alguém com bom
conhecimento geral que desse aulas para
todos os filhos, morasse com a família e ainda tivesse um salário livre. Não
era difícil encontrar uma pessoa com essa disponibilidade, porem dentro dos
critérios estabelecidos pela tradição familiar. A pessoa tinha que ser católica
praticante e seus princípios pautados nos ensinos e práticas religiosas.
Mamãe foi
uma das pessoas que mais marcaram a minha personalidade. Não saberia falar de
mim sem sentir os reflexos dos seus ensinamentos, do seu exemplo, da sua
influência na minha maneira de ser. Às vezes me pego repetindo suas falas, seu
modo de fazer as coisas, recordando: “como é mesmo que mamãe fazia isso?”
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