quarta-feira, 13 de junho de 2012

A ROTINA NA FAZENDA


O dia pegava cedo na fazenda! Quando o sol despontava lá no horizonte a lida já andava alta. A vida ali começava a adquirir movimento com canto dos galos, da passarada, o mugido das vacas e bezerros! Quem tivesse que trabalhar não podia esperar o sol nascer.  Punha-se fora da cama ao primeiro chamado do papai. Primeiro ele raspava a garganta. Para um bom entendedor, meio rã-c-rãããã já basta. Quem primeiro ouvia o barulhinho característico, éramos nós as meninas (como meus pais nos chamavam) que dormíamos em quarto contíguo ao de meus pais cuja entrada se fazia pelo quarto deles. Uma das meninas se levantava rapidamente, passava pelo quarto dos meninos, os chamava, passava pelo banheiro e ia cuidar do café que seria servido para papai e mamãe na cama. Quando os outros se levantavam, a mesa estava posta com as quitandas feitas em casa e leite fresco recém saído do úbere da vaca.  


Cada um tinha sua tarefa especifica. Uma rotina diária de provocar tédio em qualquer cidadão urbanóide que se aventurasse passar ali uns tempos.  Enquanto um cuidava das vacas pra tirar o leite, o outro ia cuidar dos porcos. Vez por outra, tinha uma vaca recém parida que exigia maiores cuidados.
Se houvesse um trabalho extra pra fazer, geralmente era determinado na véspera pelo papai. Ora correr (visitar) os pastos, ora supervisionar o trabalho dos colonos nas lavouras e ainda concertar cercas, pontes, mata-burros e outros serviços considerados da ala masculina da família. Os meninos trabalhavam pesado... Começavam quando amanhecia e só paravam para as refeições e à tarde quando terminassem todo o serviço do dia.

 As tarefas eram bem definidas.

O serviço de casa cabia às meninas. Minhas irmãs Tereza e Maria Inez se incumbiam das refeições, da roupa, da arrumação da casa, dos doces e bolos. Elas trocavam as semanas. Uma cuidava da cozinha enquanto a outra se incumbia do restante do serviço feminino. Assim parecia justo. Cada semana era uma que tinha que pular da cama mais cedo para acender o fogo e passar aquele cafezinho cheiroso! Não era difícil acender o fogo no fogão a lenha, pois sempre tinha uma tora queimando à noite toda para cozinhar o feijão. 

Logo o cheirinho do café chegava até minhas narinas, então eu que não tinha que “pegar no batente,” virava pro canto e dormia até que me chamassem. Barulho algum me acordava... Que soninho bom! Nesse tempo eu ainda era ainda criança, não entrava nessa divisão de tarefas, mas era chamada toda hora para ajudar alguém, até lá fora nos afazeres masculinos.  Meus irmãos Rui e Quito um pouco mais velhos que eu faziam serviços mais leves enquanto Jonas que já beirava os 20 anos cuidava das obrigações de maior relevância.

Quando todas as tarefas estavam cumpridas, as meninas se reuniam com a mamãe no quarto de costura para fazer pequenos concertos, bordados ou passar roupa.

Mamãe tinha uma meta de fazer uma colcha de retalhos para cada um dos filhos. Era nesse espaço de tempo, entre as refeições, que acontecia um dos momentos de maior importância para nossa formação moral e religiosa. Mamãe contava histórias, falava dos livros que lia fazia comentários das notícias sempre com uma conotação moral.

Esse foi um tempo em que eu, caçula dessa família, convivi com meus queridos irmãos e irmãs. Como éramos nove filhos vivos, acima de Jonas, ainda tinha Esmeralda, José e Mário, casados, com os quais não tive convivência diária porque moravam fora da fazenda. 

Um comentário:

miriancintra.blogspot.com disse...

Delícia ler essas suas lembranças da
fazenda. Bjs,
Mian