terça-feira, 5 de junho de 2012

DA JANELA DO MEU QUARTO...


Como era bom abrir a janela e sentir o cheiro das flores das laranjeiras e jabuticabeiras!
Da janela do meu quarto podiam-se ver frondosas fruteiras. Uma jabuticabeira e um pé de laranjas baianas eram as mais próximas.
O pomar se estendia do lado direito da casa com vários tipos de fruteiras e oferecia aos meus olhos uma visão panorâmica que só alcançava as copas das árvores.



A maior riqueza do pomar eram os pés de laranjas da Bahia ou baiana. As laranjeiras se adaptaram tão bem ao o clima e os bons tratos, que produziam frutos lindos, enormes, cada um com um filhotinho na ponta; eram tão grandes  e saborosas que uma pessoa mal dava conta de comer uma.
Nunca mais pude ver aquela qualidade de laranja, não com aquele sabor, sem ser doce e nem ácido, aquela textura, aquele volume de suco... Eram tão grandes que uma penca poderia quebrar o galho onde estivessem seguras.

E as jabuticabeiras! Meu Deus, que delícia poder chupar jabuticaba no pé! Escolher as maiores, as mais maduras e suculentas! Pena que a temporada era curta... mas eu ainda a alcançava nas férias. Era uma festa que eu celebrava sozinha porque quando eu chagava do internato, a temporada  da jabuticaba estava quase no final. Para que eu pudesse alcançar o final da produção, papai reservava, com alguns cuidados especiais, pelo menos um dos pés só para  os que estavam fora.  
A mangueira era uma frondosa árvore, tronco e galhos grossos que  proporcionam  toda fantasia e diversão peculiar a uma garota que vive só. Conforto, bem estar e posso dizer... cumplicidade! Era ali que eu passava grande parte da minha infância com minhas “comadres” imaginárias brincando de casinha. Muito raramente tinha alguém de verdade brincando comigo.
O abacateiro, coitado, todo ano na época de São João levava uma surra de vara de marmelo tostada na fogueira. Era para “aprender” a dar fruto. Era uma arvore alta, linda, mas não produzia. Havia outras fruteiras que também “apanhavam” – uma macieira e uma mexeriqueira. Recordo que tanto o abacateiro como o pé de mexericas poncãs, agradeceram ao “tratamento”, mas a macieira... por certo não bastava a surra! Não posso dizer se a qualidade das frutas foi também influenciada pelo dito “corretivo,” provavelmente os bons cuidados e a terra, contribuíram. O que sei é que eram frutos maravilhosos, tanto as poncãs quanto os abacates!
Outras qualidades de laranjeiras também faziam parte desse pomar, como a da ilha e outras comuns, que se não perdiam, era porque mamãe procurava  jeito de aproveitar um pouco da produção, no caso das laranjas, fazendo vinho artesanal.
Bem próximo da casa, mas distante da minha visão da janela, estava uma das moitas de bananeira a mais antiga. A banana maçã colhida ali naquela touceira, era doce como mel. Mais para o fundo do quintal outras moitas de outras qualidades como a marmelo e a nanica que eram usadas para fazer doce.

O rego d’água corria cortando o pomar quase na diagonal. Sua nascente era bem acima. Um braço artificial de um córrego que na seca quase parava de correr, foi o recurso de que papai usou para abastecer  o bebedouro do gado, o monjolo, o pomar e o chiqueiro. Papai usava o sistema de irrigação convencional. Abria desvios no rego para que a água pudesse correr pelo quintal e molhar as fruteiras. Esse por certo era um dos itens de preservação e cuidado que faziam toda a diferença na qualidade da produção frutífera daquele pomar.
A fazenda “acordava” ainda com o escuro. O sol  mal se mostrava   por uma barra levemente amarelada no horizonte, já os galos, os bezerros e as vacas  iniciavam a algazarra salutar e alegre  da saudação ao novo  dia! Mas eu continuava dormindo...

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