Este blog
destina-se a contar minhas lembranças de um passado distante, década de 1950,
quando as famílias que quisessem educar seus filhos, teriam que envia-los para
o internato, pois não havia escolas que fossem além das quatro séries iniciais
em muitas cidades do interior. Esse era o tempo máximo de estudo para muitos
que não tinham condições de enviar seus filhos para casa de algum parente na
cidade, ou para o internato, como meus irmãos e eu frequentamos.
Já fiz vários relatos de como era nossa vida no
internato. É bom que se diga que não era
fácil! Viver longe da família, obedecer a regras rígidas... a convivência com
outras meninas cada qual com sua personalidade, sua educação de berço... Era um
exercício de acomodação ou adaptação em que se aprendiam na convivência, muitas
vezes, quebrando a cara... Literalmente! Havia uma coleguinha que volta e meia
metia uma tapa na cara de alguém. Não raro, no recreio, havia uma apartação de
briga.
Algumas
colegas tinham o péssimo hábito de furtar objetos alheios. Outras egoístas, não
emprestavam nada e muito menos repartiam suas merendas.
As merendas
que levávamos de casa ou que recebíamos das visitas, guardávamos em uma
dispensa comum a todas as internas em uma espécie de baú individual, alguns com
chave. Após as refeições, quem quisesse e tivesse algo ali guardado, poderia se
servir e convidar as amiguinhas para compartilhar. Como tinha gente interesseira...
Bastava saber que alguém tinha sido chamada ao parlatório (sala onde recebíamos
visitas), e isso era um sinal de que a fulana seria presenteada com guloseimas,
para as “amigas” se alegrarem! O motivo nem era pela visita que a colega estava
recebendo e sim pelos doces que ela ofereceria... Nessa hora era tanto abraço, tanto beijo, tantos votos de amizade,
bilhetinhos... Puro interesse!
Havia uma
colega que recebia doces quase toda semana. Por mais que fosse adulada, ela só
chamava para o “quartinho”, ou seja, a tal dispensa, quem ela bem entendesse.
Sabíamos que ela tinha recebido goiabada
e requeijão e que nós, eu e Margarida, não estávamos na lista de suas
convidadas. Pedir? Muito humilhante! Que fazer então para saborear aquela
deliciosa goiabada acompanhada de um maravilhoso requeijão mineiro, daqueles
feitos em casa no fogão a lenha! Estudamos os meios e fomos direto ao propósito.
A dona dos
doces era intransigente, mas, não era esperta, ou melhor, era ingênua, deixava
aberta sua caixinha com toda preciosidade dentro dela! Estava fácil! Sem problema!
Mas... havia um sim! Como tirar um pedaço sem que ela percebesse e passasse a
trancar a caixa? Bolamos então uma estratégia. A caixeta de madeira onde estava
contida a goiabada caseira tinha uma
tampa que corria dentro de canaletas laterais da caixa. Ao puxar a tampa a
caixa se abria só o necessário. Daí veio a ideia: se puxarmos a tampa toda, e
começarmos a retirada do doce a partir da outra extremidade, ela vai demorar
para perceber! Bem, quando a garota percebeu...
Foi assim
que a famosa goiabada teve um final feliz!