No
internato, onde passei dez anos de minha infância e adolescência, todas as
atividades eram feitas em conjunto. Já tive oportunidade de dizer aqui que não
ficávamos sozinhas, tínhamos sempre alguém vigiando, uma freira ou uma “olheira”.
Esta era uma aluna como as outras, mas preferia ficar do lado das irmãs quando
existisse algum fato que estivesse em desacordo com o regulamento ou instruções
do momento.
Todos os movimentos
eram feitos em fila dupla; entradas e saídas de qualquer lugar, até nos
passeios pela cidade aos domingos.
Um dia,
numa manhã linda, saímos em direção a uma praça onde balanços e outros brinquedos infantis estavam
à disposição da criançada. Tudo bem, quem quisesse brincar podia escolher seu
brinquedo, mas as maiores, as mocinhas, morriam de vergonha da situação. De repente,
não sei de onde saiu, um bando de rapazes apareceram com bolas nos chamando
para jogar vôlei. Educadamente
agradecemos e trocamos algumas palavras inocentes.
Quando as
irmãs que nos acompanhavam viram que conversávamos com estranhos e ainda
jovens, alarmaram-se e no mesmo instante
deram o sinal de agrupamento. A esse sinal tínhamos que atender
imediatamente sob pena de castigo.
As irmãs
nos olhavam furiosas nos prometendo mundos e fundos em forma de punição por
aquele “ato de indisciplina”.Imediatamente
formamos a fila, e como ainda faltava muito tempo para a volta, a alternativa
era passearmos pela cidade... em fila!
Receando passar
por novas peripécias, ou encontrarmos algo desagradável pelo caminho, a irmã
responsável que não conhecia bem a cidade, foi conduzindo a fila procurando
distanciar do centro ou dos “perigos” que ele representava, ou seja, os
rapazes.
Segue aqui,
vira ali, caminhando sempre em busca de ruas ermas, deparamos com algo
inusitado. Mulheres com roupas
coloridas, saias justas e muito curtas, decotes profundos, saiam à porta e
janelas, espantadas fazendo observações inoportunas!
A irmã
ficou na maior “saia justa”, não sabia o que fazer se virava ou seguia, pedindo que não olhássemos e nem respondêssemos
aos gracejos.
Ela por fim compreendeu que teria sido melhor se tivéssemos
ficado na praça. Como diz o ditado popular: “Fugindo do espeto, caiu na brasa!”