A chegada
do Rubens a cavalo na fazenda, como não poderia deixar de ser, provocou em
todos da minha família, os que lá estavam,
muitíssima estranheza. As perguntas, as mais diversas, foram feitas
de uma só vez. Que você esta fazendo aqui? Fugiu do Colégio? Como você veio?Quem te trouxe? O menino não
conseguia falar tal a comoção do momento. Até que papai com sua voz possante bradou:
Deixem
ele falar!
O menino
contou toda história. A minha operação e a dificuldade de comunicação. Entregou
a carta das freiras relatando as providências tomadas. Disse também que havia
um carro à espera do outro lado da ponte e que esta estava parcialmente destruída.
Rapidamente
foram tomadas as providências: mamãe iria no carro que estava aguardando, junto
com o Rubens. O outro meu irmão, o João que já passava dos vinte anos, os
levaria no jeep até o local.
As ordens foram
distribuídas para que os preparativos fossem
feitos; uns cuidar dos documentos,
dinheiro; roupa, mala e a janta para o
Rubens e o motorista.Tudo preparado com o mínimo de tempo possível porque não
tardaria a anoitecer e o motorista, coitado, estava há horas sem se alimentar.
Foi
preparado um farnel com a provisão necessária para não passarem fome, caso
tivessem que passar a noite na estrada: água, a marmita com a refeição do
motorista, frutas, uma garrafinha de café, biscoitos, bolo...
Minhas
irmãs, Teca e Maria I, ficariam com papai tomando conta da casa.
Ao chegarem
nas proximidades do local, João percebeu que teriam dificuldades para
atravessar com a mamãe. Havia uma descida íngreme com lama, e da mesma forma do outro lado da
ponte, uma subida ainda mais inclinada e escorregadia. E como não bastasse esse
problema, havia um enorme rombo no assoalho da ponte. Em grande parte dela as
vigas estavam expostas. A grande pergunta: mamãe conseguiria se equilibrar?
Como não
poderia deixar de ser, Mamãe, religiosa como era, arrancou o terço da bolsa e
começou a rezar... Ela estava muito apreensiva com tudo o que estava
acontecendo, não era possível desistir àquela hora, já quase escurecendo... Por
outro lado, supondo que transporiam esses obstáculos, quem poderia garantir uma
viagem tranquila visto que a noite aproximava, o motorista cansado, a estrada continuava ruim com os
mesmos buracos, poças e lama que provavelmente teriam aumentado... Foi
refletindo assim, intuída naturalmente, que ela decidiu que o João deveria atravessar, levar a
janta para o motorista e um pouco de dinheiro em sinal de adiantamento e pedir
a ele que voltasse até a cidade de I, ali
se hospedasse numa pensão e os esperasse no dia seguinte para seguirem viagem.
De onde
eles estavam não se podiam ver se o carro ainda estava lá os aguardando. A
estrada do outro lado, além de íngreme era também sinuosa, contornava o
barranco logo após a ponte, sempre em curvas ascendentes. Rubens gritou seu
nome várias vezes, nada do senhor responder...
João resolveu ir verificar. Pegou marmita, dinheiro e o endereço da pensão e um facão que
sempre carregavam no jeep. Atravessou e subiu morro acima do outro lado da
bendita ponte. Chegando lá encontrou o carro atolado e o motorista dormindo. Meu
irmão se apresentou passando-lhe a marmita pedindo desculpas pelo transtorno e
passou-lhe as instruções. Enquanto o homem jantava, João foi cortar alguns
galhos e procurar pedras para desatolar o carro.
Enquanto
isso a noite chegou. Com muito trabalho conseguiram desatolar o carro, e o senhor
a contragosto seguiu para a cidade. Os meus voltaram para a casa, para alívio
de todos os que ficaram.
No dia
seguinte, de madrugada, saíram, desta vez com papai. Pegaram outra estrada que dava volta de vários quilômetros, porem sem
sobressaltos. Era uma via intermunicipal, embora de terra, era melhor cuidada.
Em I
encontraram o senhor esperando na pensão com cara de poucos amigos, porém com
meia dúzia de palavras, papai o acalmou.
Na verdade
não precisava mesmo muita pressa... eu já tinha sido operada e estava passando
relativamente bem, embora com uma vontade louca de ter a Mamãe ao meu lado...
No próximo post
terminaremos este episódio.
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