terça-feira, 21 de agosto de 2012

O ARRISCADO TRAJETO (III)


A chegada do Rubens a cavalo na fazenda, como não poderia deixar de ser, provocou em todos da minha família, os  que lá estavam,  muitíssima estranheza.  As perguntas, as mais diversas, foram feitas de uma só vez. Que você esta fazendo aqui? Fugiu do Colégio? Como  você veio?Quem te trouxe? O menino não conseguia falar tal a comoção do momento. Até que papai com sua voz possante bradou:  Deixem ele falar!
O menino contou toda história. A minha operação e a dificuldade de comunicação. Entregou a carta das freiras relatando as providências tomadas. Disse também que havia um carro à espera do outro lado da ponte e que esta estava parcialmente destruída.
Rapidamente foram tomadas as providências: mamãe iria no carro que estava aguardando, junto com o Rubens. O outro meu irmão, o João que já passava dos vinte anos, os levaria no jeep  até o local.
As ordens foram distribuídas para que os  preparativos fossem feitos; uns cuidar  dos documentos, dinheiro;  roupa, mala e a janta para o Rubens e o motorista.Tudo preparado com o mínimo de tempo possível porque não tardaria a anoitecer e o motorista, coitado, estava há horas sem se alimentar.
Foi preparado um farnel com a provisão necessária para não passarem fome, caso tivessem que passar a noite na estrada: água, a marmita com a refeição do motorista, frutas, uma garrafinha de café, biscoitos, bolo...  
Minhas irmãs, Teca e Maria I, ficariam com papai tomando conta da casa.
Ao chegarem nas proximidades do local, João percebeu que teriam dificuldades para atravessar com a mamãe. Havia uma descida íngreme  com lama, e da mesma forma do outro lado da ponte, uma subida ainda mais inclinada e escorregadia. E como não bastasse esse problema, havia um enorme rombo no assoalho da ponte. Em grande parte dela as vigas estavam expostas. A grande pergunta: mamãe conseguiria se equilibrar?
Como não poderia deixar de ser, Mamãe, religiosa como era, arrancou o terço da bolsa e começou a rezar... Ela estava muito apreensiva com tudo o que estava acontecendo, não era possível desistir àquela hora, já quase escurecendo... Por outro lado, supondo que transporiam esses obstáculos, quem poderia garantir uma viagem tranquila visto que a noite aproximava, o motorista  cansado, a estrada continuava ruim com os mesmos buracos,  poças e lama que  provavelmente teriam aumentado... Foi refletindo assim, intuída naturalmente,  que ela  decidiu que o João deveria atravessar, levar a janta para o motorista e um pouco de dinheiro em sinal de adiantamento e pedir a ele que voltasse até a cidade de  I, ali se hospedasse numa pensão e os esperasse no dia seguinte para seguirem viagem.
De onde eles estavam não se podiam ver se o carro ainda estava lá os aguardando. A estrada do outro lado, além de íngreme era também sinuosa, contornava o barranco logo após a ponte, sempre em curvas ascendentes. Rubens gritou seu nome várias vezes, nada do senhor responder...  João resolveu ir verificar. Pegou marmita,  dinheiro e o endereço da pensão e um facão que sempre carregavam no jeep. Atravessou e subiu morro acima do outro lado da bendita ponte. Chegando lá encontrou o carro atolado e o motorista dormindo. Meu irmão se apresentou passando-lhe a marmita pedindo desculpas pelo transtorno e passou-lhe as instruções. Enquanto o homem jantava, João foi cortar alguns galhos e procurar pedras para desatolar o carro.
Enquanto isso a noite chegou. Com muito trabalho conseguiram desatolar o carro, e o senhor a contragosto seguiu para a cidade. Os meus voltaram para a casa, para alívio de todos os que ficaram.
No dia seguinte, de madrugada, saíram, desta vez com papai. Pegaram  outra estrada que  dava  volta de vários quilômetros, porem sem sobressaltos. Era uma via intermunicipal, embora de terra, era melhor cuidada.
Em I encontraram o senhor esperando na pensão com cara de poucos amigos, porém com meia dúzia de palavras, papai o acalmou.
Na verdade não precisava mesmo muita pressa... eu já tinha sido operada e estava passando relativamente bem, embora com uma vontade louca de ter a Mamãe ao meu lado...
No próximo post terminaremos este episódio.


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