quarta-feira, 29 de agosto de 2012

DE VOLTA PARA O HOSPITAL (V)


Meu estado geral estava cada vez mais debilitado, ao contrário do que se esperava. Começava sentir dores que foram se acentuando até que uma noite, comecei a gemer e chorar, não conseguia dormir... Minhas irmãs que dormiam no mesmo quarto que eu, chamaram a mamãe. Sem saber o que fazer, na tentativa de aliviar a minha dor,  puseram-me numa bacia com água quente, deram-me analgésicos,  fizeram compressas,  chás... nada resolvia!
Começaram então os preparativos para o retorno ao hospital.
Naquele momento, no estado em que me encontrava de fraqueza e dores intensas, buscava refúgio no carinho e atenção de minha  irmã Teca, minha madrinha de Crisma, a quem eu chamava de Midinha. Minha irmãzinha querida que já partiu para outro plano, se desdobrava em atenções procurando me dar conforto com seu carinho, cobrindo toda minha carência afetiva do momento! Quem já passou por uma dor física  muito grande, um sofrimento intenso, entende o valor do aconchego amoroso, dos cuidados, da atenção! Não alivia a dor, porem conforta, protege, ampara! Era o que eu mais precisava no momento!
Considerando as dificuldades que eu bem conhecia, o meio de locomoção, a distancia        de mais ou menos  60 km de estrada de terra péssima, eu sabia que o pior estava por vir; a viagem seria um deus-nos-acuda. Os buracos e empecilhos naturais de uma estrada de chão, não permitiriam uma marcha mais acelerada. Sabia que apesar de toda boa vontade dos meus familiares, todo desejo de me proporcionarem conforto, aquela seria uma experiência dolorosa na minha vida.
De madrugada ainda, prepararam um jeitinho no jeep onde eu pudesse viajar deitada para que  eu tivesse mais conforto e não sentisse tanta dor.  Saímos. Mamãe como sempre, rezando, me confortando e chamando a atenção do papai para que tivesse paciência comigo...
Meu maior desejo era ficar livre daquele incômodo o mais rápido possível, por isso, procurava me controlar, manter-me em equilíbrio sem gritar, embora essa fosse a minha vontade. Deveria me manter firme sem reclamar porque assim fui educada, não deveria dar motivos para que papai ficasse nervoso. Que viagem longa! Era uma situação em que a cada buraco da estrada a trepidação mexia com minhas vísceras e a minha impressão era de que meu abdome ia estourar tal tensão que havia. Eu ainda encontrava energia para segurar a barriga na esperança de encontrar meios de sofrer menos. Mudava constantemente de posição, chorava, me mordia, mas, nada trazia alívio. Até que enfim chegamos. Uma maca veio para me levar para a emergência onde fui examinada. O médico, o mesmo que fez a cirurgia, veio querendo apalpar minha barriga. É claro que não deixei! Ninguém podia me tocar!  Daí para frente não presenciei mais nada. Deram-me sedativos que me apagaram, mas eu me lembro que continuava  sentir dor.
Quando acordei estava no quarto,  deitada do lado direito, sentindo um desconforto como se tivesse feito as necessidades na cama,  com uma poça de um líquido amarelado, com mau cheiro do lado dos meu quadris. Sem compreender o que estava se passando chamei a mamãe apavorada para me explicar o que era aquilo. Ela disse:
_ É pus, minha filha! Está saindo da sua barriga...
Naquele momento senti uma vertigem, a vista escureceu, se não estivesse deitada teria caído!
Mamãe  me contou então, que havia sido operada de novo e que ao toque do bisturi na cissura, o pus que estava represado no meu abdome ao se ver livre, espirrou com tanta força que alcançou as pessoas que estavam à minha volta, médicos e enfermeiras até as paredes da sala de cirurgia.
Soube mais tarde que a infecção tinha se formado entre as duas películas do peritônio, para minha sorte, se não, eu jamais poderia estar aqui contando essa minha experiência.  

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