quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A tumultuada comunicação (II)


A modernidade trouxe para o mundo em termos de tecnologia da informação, as mais avançadas invenções na arte de comunicar. Não há necessidade de enumera-las, visto que todos as conhecem.  Extremos  intercontinentais não são barreiras para se entabular relações, desenvolver negócios, transmitir notícias em tempo real.
Na década de 1950, época em que se deram os fatos que estou narrando, não era assim. Havia sim telefone, o meio mais rápido de comunicação. Entretanto, poucas eram as casas que possuíam um aparelho. Era complicado fazer interurbanos. Estes eram feitos via telefonista e contar com a boa vontade dela para chamar quem não tivesse o aparelho em casa. Um moleque de recados estava sempre disposto a ganhar uns trocados. Mas, quando a chamada era urgente para alguma fazenda,  a melhor providência seria um taxi ou carro de praça como era chamado na época.
A confirmação da minha cirurgia trouxe para as irmãs novas preocupações e problemas. O colégio, por meio de seu representante legítimo, assumiria todo encargo junto ao hospital e à família.
 No primeiro caso, a solução era de ordem prática, bastavam algumas assinaturas e tudo estava resolvido! No segundo, a providência seria avisar a família, o que parecia complicado dado a exiguidade dos meios de comunicação  sabendo-se que meus pais moravam na fazenda. O que as irmãs não contavam era com a falta de informação  da minha ficha onde havia só o endereço postal de uma fazenda, nada mais!
 Uma carta? Nem pensar! Demoraria uma semana ou mais...    Os Correios de cidades de interior não ofereciam serviço de entrega de correspondências. Essa era uma providência  descartada...  Telefonema? Como? Ligar para onde? A fazenda não tinha um aparelho. Poderia usar o sistema via telefonista. Do Colégio para a central  de F, pedir ligação para o centro telefônico de I, (cidade mais próxima da fazenda de meus pais) pedir então que a telefonista enviasse alguém até a fazenda com o comunicado.
Tudo bem se não fosse por dois detalhes importantes: chovia muito e a estrada de terra era horrível, todos os motoristas se admiravam da coragem do meu pai em aventurar-se por ali. A telefonista não conseguiu quem se dispusesse a tal façanha...
Estaca zero! Melhor seria mandar alguém com uma carta... mas e o endereço da tal fazenda? Era temerário fazer uma viagem rumo ao desconhecido sabendo-se que iria enfrentar chuva e muita lama... Foi quando alguém se lembrou dos meus irmãos que também eram internos em outro colégio só para meninos, na mesma cidade.
Até que enfim, uma luzinha se acendia no final daquele beco!
Puseram  meu irmão Rubens num taxi e lá foi ele com a incumbência de dar a notícia aos meus pais e mostrar o caminho ao motorista que após passada a minha cidadezinha I, percebeu que a estrada que não era das melhores, estava agora piorando... O homem já começava a reclamar e entender que tinha entrado numa roubada...
Meu irmão, firme, procurava não dar a entender a sua preocupação! Estava levando uma notícia de tal gravidade  e aquele homem insensível reclamando... Armou-se  de bom-senso e procurou distraí-lo com anedotas, casos da fazenda, do colégio... Conversa vai... conversa vem... desvia daqui, atola ali, e vamos em frente... até que, no ponto crucial da estrada, já nas terras de papai,   numa descida antes de uma pontezinha de estrada de fazenda,  o motorista desceu do carro e percebendo que o problema era bem mais sério que imaginava, deu um murro no para-lama falando um palavrão.E repreendendo  o pobre garoto, resolveu que voltaria dalí mesmo.  Meu irmão então tomando ares de empregador disse:
_ O senhor só vai receber a corrida, se me levar de volta para F... E eu só retorno depois de cumprido a minha tarefa! O senhor escolhe... E falando, foi descendo. Quando chegou à ponte viu que era mesmo impossível qualquer carro passar. A ponte estava danificada pela chuva. Atravessou, subiu do outro lado e pensativo rezou para que tudo desse certo.
A chuva já tinha passado, mas o tempo continuava fechado. Rubens tomou um atalho entrando em um pasto onde alguns animais pastavam. Nesse momento percebeu a ajuda do Alto que havia pedido. Com um assovio chamou um dos cavalos que o conhecendo veio até ele. Em pêlo, isto é, sem os apetrechos de montaria, montou no cavalo e saiu galopando.
Foi assim que, depois de muitos obstáculos, a comunicação entre as irmãs do colégio e minha família, foi estabelecida.  

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Águeda, só agora tive êxito em entrar no seu blog. Gostei muito dos textos, parece que a gente "vê" os locais, os acontecimentos. Desejo sucesso! Elisabeth Rose - Ceres