A modernidade trouxe para o mundo em termos de tecnologia
da informação, as mais avançadas invenções na arte de comunicar. Não há necessidade
de enumera-las, visto que todos as conhecem. Extremos intercontinentais não são barreiras para se
entabular relações, desenvolver negócios, transmitir notícias em tempo real.
Na década de 1950, época em que se deram os fatos que estou
narrando, não era assim. Havia sim telefone, o meio mais rápido de comunicação.
Entretanto, poucas eram as casas que possuíam um aparelho. Era complicado fazer
interurbanos. Estes eram feitos via telefonista e contar com a boa vontade dela
para chamar quem não tivesse o aparelho em casa. Um moleque de recados estava
sempre disposto a ganhar uns trocados. Mas, quando a chamada era urgente para
alguma fazenda, a melhor providência seria
um taxi ou carro de praça como era chamado na época.
A confirmação da minha cirurgia trouxe para as irmãs
novas preocupações e problemas. O colégio, por meio de seu representante legítimo,
assumiria todo encargo junto ao hospital e à família.
No primeiro
caso, a solução era de ordem prática, bastavam algumas assinaturas e tudo
estava resolvido! No segundo, a providência seria avisar a família, o que
parecia complicado dado a exiguidade dos meios de comunicação sabendo-se que meus pais moravam na fazenda. O
que as irmãs não contavam era com a falta de informação da minha ficha onde havia só o endereço postal
de uma fazenda, nada mais!
Uma carta? Nem
pensar! Demoraria uma semana ou mais... Os
Correios de cidades de interior não ofereciam serviço de entrega de
correspondências. Essa era uma providência
descartada... Telefonema? Como? Ligar
para onde? A fazenda não tinha um aparelho. Poderia usar o sistema via
telefonista. Do Colégio para a central
de F, pedir ligação para o centro telefônico de I, (cidade mais próxima
da fazenda de meus pais) pedir então que a telefonista enviasse alguém até a
fazenda com o comunicado.
Tudo bem se não fosse por dois detalhes importantes: chovia
muito e a estrada de terra era horrível, todos os motoristas se admiravam da
coragem do meu pai em aventurar-se por ali. A telefonista não conseguiu quem se
dispusesse a tal façanha...
Estaca zero! Melhor seria mandar alguém com uma
carta... mas e o endereço da tal fazenda? Era temerário fazer uma viagem rumo
ao desconhecido sabendo-se que iria enfrentar chuva e muita lama... Foi quando alguém
se lembrou dos meus irmãos que também eram internos em outro colégio só para
meninos, na mesma cidade.
Até que enfim, uma luzinha se acendia no final daquele
beco!
Puseram meu
irmão Rubens num taxi e lá foi ele com a incumbência de dar a notícia aos meus
pais e mostrar o caminho ao motorista que após passada a minha cidadezinha I,
percebeu que a estrada que não era das melhores, estava agora piorando... O
homem já começava a reclamar e entender que tinha entrado numa roubada...
Meu irmão, firme, procurava não dar a entender a sua
preocupação! Estava levando uma notícia de tal gravidade e aquele homem insensível reclamando... Armou-se
de bom-senso e procurou distraí-lo com
anedotas, casos da fazenda, do colégio... Conversa vai... conversa vem... desvia
daqui, atola ali, e vamos em frente... até que, no ponto crucial da estrada, já
nas terras de papai, numa descida antes de uma pontezinha de
estrada de fazenda, o motorista desceu
do carro e percebendo que o problema era bem mais sério que imaginava, deu um
murro no para-lama falando um palavrão.E repreendendo o pobre garoto, resolveu que voltaria dalí mesmo.
Meu irmão então tomando ares de
empregador disse:
_ O senhor só vai receber a corrida, se me levar de
volta para F... E eu só retorno depois de cumprido a minha tarefa! O senhor
escolhe... E falando, foi descendo. Quando chegou à ponte viu que era mesmo impossível
qualquer carro passar. A ponte estava danificada pela chuva. Atravessou, subiu
do outro lado e pensativo rezou para que tudo desse certo.
A chuva já tinha passado, mas o tempo continuava fechado.
Rubens tomou um atalho entrando em um pasto onde alguns animais pastavam. Nesse
momento percebeu a ajuda do Alto que havia pedido. Com um assovio chamou um dos
cavalos que o conhecendo veio até ele. Em pêlo, isto é, sem os apetrechos de
montaria, montou no cavalo e saiu galopando.
Foi assim que, depois de muitos obstáculos, a
comunicação entre as irmãs do colégio e minha família, foi estabelecida.
Um comentário:
Olá Águeda, só agora tive êxito em entrar no seu blog. Gostei muito dos textos, parece que a gente "vê" os locais, os acontecimentos. Desejo sucesso! Elisabeth Rose - Ceres
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