quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A cirurgia (I)

Os relatos iniciados aqui  com A cirurgia fazem parte de uma série de posts  que vou enumerá-los para que o prezado leitor faça ligação de um acontecimento  com outro não perdendo a sequência dos fatos.

Provavelmente o fato que descreverei agora, muito tem a ver com a carência alimentar sofrida  por  intolerância ao que era servido como refeição às internas do colégio. Por mais fome que eu tivesse meus sentidos não se esforçavam por estabelecer empatia com aquelas iguarias exibidas sobre as mesas do refeitório. À visão daquele fígado azulado e do feijão gelado provocava em mim tamanho asco que no mesmo instante meu cérebro passava a mensagem  para o estômago provocando  reviravoltas que com  muito esforço conseguia dominar.
 Depois de algum tempo me alimentando mal, meu organismo baixou a guarda e as consequências foram danosas para meu corpinho de adolescente.
Certo dia, o colégio estava em preparativos para evento; todas as internas estavam envolvidas com a arrumação e designadas para  ocupações de arrumação e decoração do pátio interno onde seria armado um palco. A movimentação era intensa. Umas cuidavam de lavar o piso e limpar as janelas, outras carregando cadeiras e mesas para compor o ambiente e outras ainda cuidavam da decoração.
Eu escolhi um trabalho que considerava leve, não estava com disposição para o trabalho pesado. Meu serviço seria desgalhar o cipreste, retirar os ramos menores, o que poderia fazer assentada  no chão atrás de um monte de galhos. Eu olhava aquela movimentação toda me sentindo apática, sem ânimo, indisposta. Meu corpo queria repouso... e ali mesmo atrás dos galhos me deitei  e deixei o sono tomar conta... mas por pouco tempo porque logo alguém veio e me descobriu ! Fiquei  muito envergonhada e atrapalhada retornei ao serviço. Estava ficando cada vez mais indisposta, parecia que minha cama me atraía! Resolvi então abandonar o trabalho e atender ao chamado! Subindo as escadas que davam para o dormitório, minhas pernas não obedeciam, e ali me deitei novamente, quando percebi que havia ainda alguns obstáculos a serem  transpostos : os degraus restantes, a porta que poderia estar trancada, o percurso dentro do dormitório até chegar à minha cama...  não tinha forças para tanto...
Naquele horário ninguém  tinha hábito de subir ao dormitório, e eu ali fiquei sem que dessem por minha falta.  Eu ainda não tinha atinado  para o que estava acontecendo comigo. Não sei por quanto tempo fiquei ali deitada na escada... até que apareceu um anjo bom, por sorte, a irmã enfermeira que percebeu de imediato que algo errado estava acontecendo  comigo.
Quando acordei estava rodeada pelas irmãs  com olhares preocupados e um senhor de branco que me apalpava a barriga. Nessa hora,  gritei de dor!
_Apendicite!  Falou ele. Operar imediatamente... Se não, pode supurar.
A movimentação que já estava intensa aumentou ainda mais. Ambulância, paramédicos, enfermeiros, maca... e eu entregue, chorando, clamando por mamãe!... Para mim,  só a presença dela era suficiente para me livrar daquele desconforto! Chorava de dor física, de solidão, de saudade... de angústia, de medo, muito medo!!!!!
Fui levada para o hospital e a cirurgia foi feita imediatamente à revelia da presença de meus pais.
 Os desdobramentos  consequentes desse fato darão espaço para novos episódios... Aguardemos...


2 comentários:

Anônimo disse...

Bobinha, eu nao sabia dessa operacao!

Agatha disse...

É bom acompanhar! Há detalhes de minha vida que ainda não revelei...