Os relatos iniciados aqui com A cirurgia fazem parte de uma série de posts que vou enumerá-los para que o prezado leitor faça ligação de um acontecimento com outro não perdendo a sequência dos fatos.
Provavelmente o fato que descreverei agora, muito tem a
ver com a carência alimentar sofrida por
intolerância ao que era servido como
refeição às internas do colégio. Por mais fome que eu tivesse meus sentidos não
se esforçavam por estabelecer empatia com aquelas iguarias exibidas sobre as mesas
do refeitório. À visão daquele fígado azulado e do feijão gelado provocava em
mim tamanho asco que no mesmo instante meu cérebro passava a mensagem para o estômago provocando reviravoltas que com muito esforço conseguia dominar.
Depois de algum
tempo me alimentando mal, meu organismo baixou a guarda e as consequências foram
danosas para meu corpinho de adolescente.
Certo dia, o colégio estava em preparativos para evento;
todas as internas estavam envolvidas com a arrumação e designadas para ocupações de arrumação e decoração do pátio interno
onde seria armado um palco. A movimentação era intensa. Umas cuidavam de lavar
o piso e limpar as janelas, outras carregando cadeiras e mesas para compor o
ambiente e outras ainda cuidavam da decoração.
Eu escolhi um trabalho que considerava leve, não estava
com disposição para o trabalho pesado. Meu serviço seria desgalhar o cipreste,
retirar os ramos menores, o que poderia fazer assentada no chão atrás de um monte de galhos. Eu olhava
aquela movimentação toda me sentindo apática, sem ânimo, indisposta. Meu corpo
queria repouso... e ali mesmo atrás dos galhos me deitei e deixei o sono tomar conta... mas por pouco tempo
porque logo alguém veio e me descobriu ! Fiquei muito envergonhada e atrapalhada retornei ao
serviço. Estava ficando cada vez mais indisposta, parecia que minha cama me atraía!
Resolvi então abandonar o trabalho e atender ao chamado! Subindo as escadas que
davam para o dormitório, minhas pernas não obedeciam, e ali me deitei novamente,
quando percebi que havia ainda alguns obstáculos a serem transpostos : os degraus restantes, a porta
que poderia estar trancada, o percurso dentro do dormitório até chegar à minha
cama... não tinha forças para tanto...
Naquele horário ninguém tinha hábito de subir ao dormitório, e eu ali fiquei
sem que dessem por minha falta. Eu ainda
não tinha atinado para o que estava
acontecendo comigo. Não sei por quanto tempo fiquei ali deitada na escada...
até que apareceu um anjo bom, por sorte, a irmã enfermeira que percebeu de
imediato que algo errado estava acontecendo comigo.
Quando acordei estava rodeada pelas irmãs com olhares preocupados e um senhor de branco
que me apalpava a barriga. Nessa hora, gritei de dor!
_Apendicite! Falou
ele. Operar imediatamente... Se não, pode supurar.
A movimentação que já estava intensa aumentou ainda
mais. Ambulância, paramédicos, enfermeiros, maca... e eu entregue, chorando,
clamando por mamãe!... Para mim, só a
presença dela era suficiente para me livrar daquele desconforto! Chorava de dor
física, de solidão, de saudade... de angústia, de medo, muito medo!!!!!
Fui levada para o hospital e a cirurgia foi feita
imediatamente à revelia da presença de meus pais.
Os desdobramentos
consequentes desse fato darão espaço
para novos episódios... Aguardemos...
2 comentários:
Bobinha, eu nao sabia dessa operacao!
É bom acompanhar! Há detalhes de minha vida que ainda não revelei...
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