O Colégio
atendia alunas em regime de internato semi-internato e externato desde os
primeiros anos de vida escolar, isto é, alfabetização até o ensino médio, ou
seja, o Curso Normal (Magistério) que era o estágio máximo de estudos que a
maioria das mulheres conseguia chegar.
Era muito
precário o sistema de ensino; as cidadezinhas tinham cada qual o seu Grupo
Escolar onde os alunos encerravam suas carreiras na 4ª serie. Raros, os que
tinham melhores condições financeiras e que podiam arcar com as despesas das
mensalidades no internato, avançavam nos
estudos. Para isso existiam colégios de cidades maiores, geralmente dirigidos
por religiosos, homens e mulheres empenhados em educar a juventude, que se congregavam sob um regulamento próprio.
Cada congregação fazia seu currículo de acordo com as próprias conveniências. Até
os livros adotados tinham a procedência de editoras próprias que suprimiam
fatos históricos relevantes, mas que depreciavam sobremaneira a imagem da
estrutura fundamental a Igreja Católica.
Havia
colégios liberais, convencionais e rigorosos. Aos poucos essas instituições foram se modernizando, não conseguindo se manter, tiveram que se adequar. O fato é
que os antigos internatos se transformaram abrindo espaços para outras
atividades educacionais mais abertas, mas ainda carregadas de preconceitos e
sectarismos.
O colégio onde cursei as primeiras séries era dirigido por um grupo de irmãs religiosas
cada qual com sua função específica. A Madre Superiora cuidava da parte
administrativa e a Madre Diretora
ocupava-se dos assuntos pertinentes ao ensino. Esta era famosa pelos seus
gritos! Se algo fugisse aos preceitos disciplinares, de onde
ela estivesse mandava um berro que provocava um sobressalto geral. Todo mundo
morria de medo da tal irmã. A outra, a superiora, essa superava em extravagância.
Quando cismava queria corrigir da maneira mais inusitada o que achava errado.
Certa
tarde, depois do recreio, a Irmã responsável tocou a campainha chamando para sala de estudos. Era o momento de preparar
para a aula no dia seguinte. A irmã badalava a campainha e ninguém ia para a
fila. Bateu uma, duas, três e nada... parecia que todas as internas estavam surdas ... aí apareceu na sacada a Madre Superiora. Quando percebemos
que vinha bronca, tratamos de ir para a fila, quietinhas! Mas não adiantou... Daí
a alguns minutinhos aparece a Madre com força total agitando a sineta,
que devia pesar umas 300 gramas de puro bronze. Agitava com a mão esquerda,
cansava , passava para a direita, foi revezando até cansar por uns dez minutos.
Depois mandou-nos subir para a sala. Até aí, tudo bem, nada de falatórios nem
sermões. Entramos na sala. Era costume ao chegarmos na própria carteira, devíamos esperar
até que a última entrasse para fazermos
a oração de pé. Depois então é que poderíamos assentar ou sair para outras
atividades. Surpresas, achamos que estava tudo normal... não teve bronca... Foi
quando ela pegou a campainha e a entregou para jovem que estava saindo para a
aula de piano.
_ Toque! Disse
ela. A moça sem entender pegou a sineta.
_ Toque, não
sabe como se toca uma campainha? A moça agitou a sineta e a um gesto da madre
passou para outra. Estávamos de castigo tocando sineta a tarde toda até a
ultima garota da sala. Um detalhe: quem fizesse cara de riso ou crítica, tinha
o castigo dobrado...
As atitudes tresloucadas dessas irmãs que ocupavam
lugar de destaque na direção do colégio eram uma nota espetacular, motivo para
comentários que rapidamente sairiam muros a fora.
Há pessoas
a quem não importa o papel ridículo que representa diante do estrelismo de um
momento.
2 comentários:
Interessante seu relato, você escreve bem tem um estilo que empolga, consegue fazer a gente visualizar as cenas e viajar no seu conto, parabéns
Faço minhas as palavras do Fernando!...
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