Imaginem o que é permanecer 15 dias deitada em cama de
hospital com um dreno vazando o tempo todo, sem poder tomar banho completo...
comendo uma gororoba sem sabor... com necessidade de me movimentar, correr,
brincar... Comer um franguinho ao molho, feito no fogão caipira, com arroz e
farinha. Ah! Que delícia! Era a minha preferência naquela época!
Na verdade, tinha saudade de tudo, da fazenda, das
colegas, até do colégio! Meu consolo era
a presença paciente e acolhedora de Mamãe, dividindo comigo, é claro,
aquela situação desgastante.
Quando recebi alta, surgiu novamente a indecisão e a discussão
sobre voltar ou não para a fazenda. O bom senso determinou que eu ficasse em F
onde eu teria a assistência médica e um tratamento adequado. Voltaria então
para o colégio, para minha contrariedade. Naquele momento não me importava de
perder o ano letivo, pois me sentia frágil, indefesa, sozinha!
A recomendação era para que eu ficasse em repouso
absoluto, o máximo de tempo possível deitada do lado direito para que a
secreção pudesse escorrer livremente até que terminasse todo aquele processo
infeccioso.
Acomodaram-me na enfermaria no piso térreo do colégio onde
eu ouvia a movimentação das meninas, a algazarra na hora do recreio e recebia as visitas
clandestinas das colegas.Não havia razão para a clandestinagem se não fosse
proibido! Estávamos sempre prontas para burlar o regulamento, eram tantas as
regras que para segui-las chegaríamos próximo à santidade. Esse foi o agravante
para que me transferissem para o
dormitório.Trancado o dia todo,eu só podia ver minhas colegas à noite quando iam dormir.Eu só
recebia a visita de algumas colegas para me passarem o conteúdo das aulas. Não sei
por que fui colocada sob esse regime... não estava com nenhuma doença
contagiosa... Imaginem como eram longos os dias... e as noites...Dormia muito
durante o dia e à noite ficava insone olhando o balançar das árvores na janela.
Hoje tenho as respostas para a minha submissão a essa
disciplina. Era cultural e natural obedecer. Obedeciam-se aos pais, aos irmãos mais velhos em casa, aos
professores, às convenções sociais, ao marido e por último aos filhos... Nunca
se rebelar, nem se posicionar contra essa ou aquela ordem. Assim me sujeitei passar
meses naquela situação.
Recebia a visita do medico regularmente até quando ele tirou o dreno. A ferida foi
cicatrizando ao comando da própria natureza.
Há males que vêm para o bem. Nesse tempo fiquei
conhecendo umas primas de papai que moravam em frente ao colégio. Eram, a mãe
já bem idosa e três filhas solteiras já quarentonas. Pessoas maravilhosas, uma mais carinhosa
que a outra, se prontificaram a me abastecer
de frutas e guloseimas. Todos os dias me
mandavam uma copada de vitamina. Eu ficava ansiosa para chegar a hora em que tomaria a deliciosa batida
de frutas com leite.
Até que enfim a ferida cicatrizou completamente e pude
sair do “castigo” e frequentar as aulas.
Fui dispensada da missa todas as manhãs
e do terço à noite, para inveja das colegas. Meu horário era diferenciado,
deitava cedo, e levantava mais tarde. Tinha sempre alguém para me acompanhar no
banho e uma das normalistas para me ajudar com os deveres de casa. Na verdade, estava
me sentindo bem paparicada!
Este drama
vivido por mim na minha infância me ensinou a valorizar as pessoas, a ver a família
com os olhos do coração quando ela sofria comigo as minhas dores; pequenas
coisas, que entre a abundância em um
momento e a carência no outro, me fizeram refletir e avaliar o quanto eu estava
sendo amparada e protegida nos dois planos da vida. Para que eu sobrevivesse,
uma verdadeira batalha foi travada, com um final feliz para todos, graças a
Deus!
2 comentários:
OOOOOO Dodoi! As primas quebraram um galho heim? bjin. Fiote
É verdade! quebraram um galhão!
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